A SELHA
Esta
crónica já tem uns anitos, mas nem
por
isso abandonou a sua actualização.
(A.
Figueiredo)
“A SELHA”

Por analogia
era uma coisa parecida como aquilo a que hoje chamamos de parlamento, onde nada
se parla, mas todos se altercam, todos se agridem e todos se insultam, numa constante e frenética
azáfama de “lavagem de roupa suja”. Não há vez nenhuma que eu veja imagens de
serenidade, respeito mútuo e consenso. Não sei se é fita para impressionar
a opinião pública -a minha não impressionam- ou se é falta de formação, mas o
certo é que isto tem vindo a acontecer.
-Senhores
deputados (?)!... Senhores deputados (?)!... É favor retomarem o silêncio.
Bem, na minha
terra dizem, não sei se é verdade, que quando um burro fala, o outro abaixa as
orelhas. Isto sem desprimor para os burros, animais que no pensar são muito
parecidos connosco, os quais por tal facto eu muito admiro e nutro grande
consideração.
Estes à partes
são como se fossem uma no cravo e outra na ferradura, pois não quero que os burros
fiquem aborrecidos pela acérrima e descarada concorrência que lhes tem sido
feita.
Mas, voltando
à vaca fria, a selha, como utensílio, hoje está em desuso, porque o polímero
veio estragar tudo, mas a sua filosofia – selhosofia - continua e em franco progresso
e eu até era capaz de jurar que se lava mais “roupa suja na selha”, do que em
todas as lavandarias do país.
Tem sido um
constante macular de nódoas das mais diversas espécies e um acumular de roupa
suja de tal maneira, que não vejo o fim à sua lavagem obrigando-me a crer que a
“selha” não mais terá paz e nós também não.
As “nódoas”
que dão origem às mesmas, podem evitá-las se tiverem discernimento e
inteligência suficientes para interiorizar que a virtude do diálogo e da
compreensão são os pontos fulcrais para a resolução de quaisquer problemas por
mais intrincados que eles sejam, e escusam de dar maus exemplos a cerca de dez
milhões de almas, que por vezes ficam com cara de parvos, ao ouvir tanta
bosteirada.
Apesar de todo
o avanço da tecnologia, que avançou mais do que a educação moral e cívica, eu
sou a favor da existência da selha, não para lavar roupa suja, mas para lavar a
língua de quem por pura oligofrenia, não a sabe utilizar convenientemente.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra, 05/2003
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