A GUERRA
Apesar
de ter sido escrita há muitos anos, ainda hoje, lamentavelmente tem muito de
verdade.
Onde há grandes recompensas,
há
homens valentes.
(Sun Tzu)
A GUERRA
Parida pela cobiça, à
sombra da protecção flatulente do poder enfermo de forte necrose gananciosa e
crónica retinopatia, acalentada pela tecnologia bélica, aparece A GUERRA. Para uns, uma autêntica
desgraça, para outros uma verdadeira “cowboyada”
e ainda para muitos uma maneira de cultivo da imagem. Mas, seja aquilo que
for, foi das coisas mais hediondas que na minha juventude tive oportunidade de
conhecer. Ninguém conhece ninguém, e o que toca a cada um é defender a sua
pele. É por detrás dela que a pátria se encontra e também os interesses dos
senhores da guerra, que na realidade não passam de uns miseráveis mas argutos
vendedores de peles humanas.
Repare-se nos
acontecimentos ocorridos na invasão ao Iraque e os lamentáveis resultados que
daí descambaram escusadamente. Tudo isto não foi mais do que o resultado de uma
obstinação doentia, de contornos previamente delineados e com fins dominadores,
nos contextos geográfico, lucrativo e experimental.
O que me
revolta é o cínico baptismo de “guerra cirúrgica”. Mas que grande cirurgia!...
Maldito seja o médico que autorizou o uso tal bisturi.
Ainda há meia
dúzia de “acreditados” patêgos que nas suas intervenções noticiosas diárias, com
toda a solenidade e cagança que me metem nojo, aplicam o termo teatro de guerra. Até dá a impressão
que a guerra é uma representação teatral. Lá dramática é, mas de representação
artística nada tem.
Tantas pessoas
que ficaram na miséria! Tantas pessoas que ficaram arrumadas para toda a vida!
Contudo, felizes daquelas que não sobreviveram para ver os resultados dos
aplicativos perversos da mente humana, no seu mais alto de morbidez.
No meio de
toda esta cena dantesca, existem tomadas de posição de tal maneira tendenciosas
que me causam comichão no coiro cabeludo que, apesar de já ser pouco, por baixo
ainda reina um razoável poder analítico. Criam um grande alarido noticioso
porque morreram um dúzia de jornalistas, - que eu com pesar lamento - quando
cumpriam a sua nobre missão de informar, para a qual voluntariamente se
propuseram. Pedem justiça e averiguações, com certeza para castigarem os
culpados se a esta hora ainda estiverem vivos. Esquecem-se que as balas e os
estilhaços não têm olhos, nem estão imbuídos de filosofia para saber onde estão
os justos. No campo de batalha, o nervosismo e a tenção são de dimensões tais,
que o menor gesto pode ser mesmo a morte do artista.
Quem está no
centro operacional onde ouve o ribombar dos canhões, o som vulcânico das bombas
e o pesado costurar das metralhadoras, quase não tem tempo para pensar nos
outros. Ele está ali para defender-se e com o pensamento sempre fixo em alguma
bala que possa vazar-lhe o peito, num estilhaço perdido que tente rasgar-lhe a
carne, não descorando a possibilidade de uma bazucada que o leve para os anjinhos.
Por outro
lado, quem está dentro das suas quatro paredes, boas ou más, acha-se sob
apreensiva tensão, na expectativa de que, em vez de chuva, lhe entre abusiva e
repentinamente pelo teto, uma bomba que acabe de vez com os seus pensamentos.
A guerra é
assim. Ninguém fez mal a ninguém e toda a gente mata toda a gente.
Depois da
tormenta devia vir a bonança, mas isso não acontece; a seguir vem o saque e a
vingança. Não obstante estas situações não passarem ao lado do conhecimento dos
senhores da guerra, eles nada fazem para a sua contenção. Preocupam-se em abrir
as comportas e não se preparam para estancar a água se necessário for.
A guerra é
assim e quase sempre injustificável, por muitas justificações que queiram dar.
No caso do
triste acontecimento da invasão ao Iraque, as justificações foram diversas,
desde a ajuda ao terrorismo internacional, passando pelas armas de destruição em massa e culminou na
ditadura de Sadam Hussein.
Sentiu-se uma
nítida e acentuada obsessão por parte do Tio
Bush na invasão ao Iraque e conseguiu-o, ainda que a maior parte do mundo
estivesse contra esta tomada de posição; foi como no Far West, a lei do mais forte.
Agora,
inchando o seu peito de pardal, o Tio
Bush congratula-se com a vitória (petrolífera). Mas que vitória!?
Onde se
encontram as armas de destruição em massa? Se calhar evaporaram-se.
Onde está Sadam Hussein e o seu governo? Com
certeza juntou-se a Bin Laden – mas
que duo.
É a isto que
se chama vitória?
Espero que
ainda existam consciências condescendentes e capazes de perdoar, não obrigando
a América a colher os frutos da sua sementeira.
Não necessito
acrescentar mais, uma vez que os factos falam por si e as consciências mais
sensatas julgarão o sucedido.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
13/04/2003
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