PEIXE GRAÚDO NÃO É PETINGA
Quanto
maior o número de leis,
maior
será a injustiça.
(Lao
tzé)
PEIXE-GRAÚDO
NÃO É PETINGA
Num Portugal deprimido, com os cofres repletos
de ar e a cheirar a mofo, que sente vontade em levantar a crista mas os
credores não deixam, ainda nos nossos dias aparece uma obstinada figura que, à
semelhança de Deu-la-deu Martins, tenta transmitir aos nossos “amigos” troikanos e também aos portugueses, que
ainda temos “pão” para dar e vender”!
Muito gostaria eu de acreditar nisso, e
certamente também os que do exterior nos manipulam os cordelinhos da governação
sob determinado enrijamento que obstinam em não abrandar.
Quem tem o poder aurífero é peixe-graúdo e esse não morde o anzol;
engole-o, sacode as barbatanas, caga no pescador e desanda.
Por isso, não é com palavras de
esperança, mesmo que ela exista, que se enchem os gritantes estômagos vazios
dos desventurados a quem a crise não
se coibiu de lhes bater à porta. Enquanto ela serpenteia por entre exércitos de
desgraçados famintos, que vão sobrevivendo com algumas migalhas que para o peixe-graúdo não têm préstimo, é
irrisório que ainda apareça alguém com ânimo para discursar palavras de alento,
nas quais não sinto fundamento algum.
A ser verdade, porque é que “cardumes petingas” dormem ao relento,
à borda dos passeios, debaixo de pontes, nos bancos dos jardins ou em
miseráveis barracos onde a salubridade está proibida de entrar, enroscadas como
ouriços-cacheiros para se protegerem do frio, ou esticados como salpicões ao
fumeiro para aliviarem o calor do verão, enquanto o peixe-graúdo se delicia com tudo o que mais lhe oferece deleite e
cujos privilégios, ao que parece, são decorrentes de açambarcamentos
indecorosos que enchem o terreno da dúvida, ainda por acabar de lavrar? Neste
“latifúndio”, grande vai ser a azáfama para o desbravamento da verdade. Mas…
Se as arcas estão cheias, guindem os
desprotegidos da miséria; se o peixe-graúdo
é dono de um oceano numismático e se for provado que foi arranjado à custa
de meios fraudulentos, que se aplique o confisco aos seus haveres e que sejam
aplicados com ética e ponderação no alívio dos mais necessitados em Portugal.
Lamento muito mas vaticino que isto não
vai acontecer! Primeiro porque os cofres aparentam estar cheios de
depauperação, por onde descontraidamente passeiam algumas baratas e peixinhos
de prata, dando cabo dos títulos envelhecidos pelo tempo; segundo porque a
protecção aplicada ao peixe-graúdo,
não é a mesma que a destinada à petinga;
o peixe-graúdo tem poder para
comprar a sua invulnerabilidade e até, a sua honra, mesmo que ele tenha sido
justamente maculada.
Por analogia, ainda que possa ser
imperfeita. está a passa-se o que se passou do reinado de D. José I, apenas com
uma diferença… falta o Sabastião Zé
de Carvalho e Melo, mais conhecido por Marquês
de Pombal, para urdir as malhas das redes e fazer uma limpeza “oceanográfica”
territorial.
É verdade.
E coragem para isso?
Peixe-graúdo
não é petinga, não!? Põe muito poleiro a abanar.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
25/03/2015
CRÓNICAS
DE UM CRÓNICO
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