O ARTIGO 48 DO EBF
O
ARTIGO 48º DO EBF
*(Carta
aberta ao Primeiro-ministro)
Exmo.
Sr.
Primeiro-ministro
de Portugal
Pedro Manuel Mamede Passos Coelho
Isto porque existem cidadãos em situação
angustiante, como o caso que concretamente conheço, e que, com ferrenha
indignação passo a descrever; faço-o com a firme convicção de que não é único
neste país, e conjuntamente, para conduzir até V. Exa. o que sobejamente não
deve ter passado à margem do seu conhecimento mas…(?)
**
Maria nasceu em Moçambique, e, ainda muito pequenina,
experimentou a “cómoda” estadia num campo de refugiados que o país vizinho
(África do Sul) facultou, com a prestimosa ajuda também, de muitas pessoas de
boa vontade - cedo começou a roer as côdeas do pão que o Diabo amassou.
Naquele país viveu durante dois anos. Ao
sabor das decisões dos seus progenitores, veio para Portugal, na altura um
território atafulhado de pessoas de todos os géneros, de cores, raças, crenças
religiosas e ideologias políticas, que foram empurradas a monte, na sequência
da descolonização “exemplar” que todos tão bem conhecemos.
Depois de várias peripécias, nas quais
as crianças não têm voto, veio parar a Coimbra, cidade muito engraçada por
sinal, e populada por pessoas onde a
afabilidade é uma constante – ainda hoje.
Ali enraizou e amadureceu, criou as suas
amizades e, mesmo trabalhando, com intensificado sacrifício adquiriu uma
licenciatura que, na sua modesta ambição, lhe granjearia um futuro, não de
riqueza, mas de estabilidade na sua vivência.
Arranjou emprego numa multinacional; trabalhoso,
é certo, todavia compensatório. Adquiriu um modesto apartamento num prédio já
com “avançada” vetustez, graças à sua força de vontade e imolação dos apetites
supérfluos; casou e teve um menino; mercê das arrasadoras reviravoltas
político-económicas que por este país têm vindo a andarilhar sem rei nem roque,
a empresa onde trabalhava, como muitas outras, viu-se coagida a de despedir
bastante pessoal dos seus quadros, vindo este infortúnio bater-lhe à porta –
isto porque actualmente não existem pessoas, mas dígitos.
Tem uma idade que lhe permite trabalhar
(quarenta e cinco ou quarenta e seis anos), se bem que veja diminuída a sua entrada
no mercado de trabalho porque o rebanho grande, oferecendo deste modo o que os
grandes lobies de filosofia esclavagista
procuram; as melhores rezes do rebanho e ao menor custo; estas, coagidas à
resignação, “oferecem-se” como um cordeiro pascal, para serem imoladas,
chupadas até ao tutano e posteriormente substituídas, quando a sua imagem se
aproxima do fim da primavera, uma vez que a manada é variada!
V. Exa.ª sabe bem disto, só que teve a
felicidade destas agruras nunca lhe terem roçado o casaco de pele que cobre a
estrutura que o suporta como um ser vivente, até que atinja a igualdade
naturalmente imposta a todo o ser.
Agora, com um filho para educar, umas
prestações da “casa” ainda por finalizar, enferma de exaustão de tanto procurar
uma colocação e com o Fundo de Desemprego
finado, aparece-lhe agora um IMI
como galardão, cuja benevolência de sua isenção, vem atarraxada no célebre Artigo 48º do EBF! Uma “benevolência”
cerrada, lavrada em escarpado despotismo;
(…) em que o VP (Valor Patrimonial), não
seja superior a € 66.500:00 e o rendimento anual do agregado familiar não seja
superior a €15.295:00 (…), sem conceder quaisquer alternativas ainda
que temporárias, para o seu integral pagamento, mesmo perante elementos de
prova da sua “franzina” capacidade financeira.
Isto, Sr. Ministro, é mau, muito mau! É
mau por várias razões que não vale a pena aqui enumerar, contudo, estou crente
que o Sr. as conhece, perante as miseráveis realidades apregoadas pela
comunicação social, como se tem vindo a constatar.
No caso em apreço, Maria, actualmente e com provas evidentes, não possui outros meios
de subsistência ao não ser a ajuda familiar.
Gostaria, Sr. Primeiro-ministro, que
através da sua sapiência ou esperteza, me aconselhasse sobre o que deverei proferir
a esta Sra. para que ela possa satisfazer os seus compromissos, pelo menos para
com o Sherif de Nottingham (Autoridade Tributária).
Vender ao desbarato o seu lar ou
permitir que o Estado promova o seu leiloamento ad hoc? Enveredar por caminhos que levam a nenhures e engrossar o
já consistente filão de miséria existente na nossa terra, ou imigrar?
Não creio que V. Ex.ª vá dizer-me, no
meio de tudo disto, que o melhor será emigrar!? Estou certo de que não irá cair
nessa!?
Maria
é o ícone emblemático de todas as Marias -
e Manéis - da população portuguesa que, com problemas semelhantes, esperam
de si uma resposta concisa que lhes outorgue a fruição uma vida digna, porém, que
não seja análoga às que aqui grafei!?
E eu também!
Atenciosamente.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 06/04/2015
“CRÓNICAS
DE UM CRÓNICO”
*Esta carta aberta postada na
internet,
foi enviada ao Sr. Pimeiro-ministro,
a diversos
periódicos e também, ao
Sr. Presidente da República
Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva
**Nome fictício para evitar
constrangimentos.
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