LOCUÇÕES DESAFORTUNADAS
LOCUÇÕES DESAFORTUNADAS
(Carta aberta ao Primeiro-ministro de Portugal)
O desemprego, “não pode ser para muita gente,
(…) um sinal negativo. (…) tem de representar
também, uma oportunidade para mudar de vida”…
(Palavras do Primeiro-ministro Pedro Passos Coelho)
Exmo Sr.
Primeiro-ministro
Pedro
Passos Coelho
Para eu ter investido o meu voto a fim de dar a V. Exa.
uma oportunidade para mudar de vida e
agora ter de escrever-lhe esta carta aberta, e, também de franca leitura para
todos os portugueses, creia-me sinceramente ressentido pelas palavras, para mim
mal aferidas, que se calhar irreflectidamente baldeou cá para fora.
Quando nos propomos a ocupar altos ministérios, as
nossas dissertações devem ser feitas por conta, peso e laminar comensuração,
para que o seu conteúdo não perturbe a digestão de alguma dura situação, que por
si só já seja de difícil “ruminação”, como é esta que actualmente se vive no
nosso desorganizado cantinho dos marrêtas.
Saiba V.
Exa. que o desemprego, para quem quer e necessita trabalhar para suportar as
despesas próprias ou do colectivo parental, se tiver família, é um fantasma que
pode levar uma pessoa à alienação mental, podendo arrastá-la ao empreendimento
de actos que podem estar em contravenção com a moral, com a ética, e,
consequentemente com a lei, cuja diligência desta, (lei) também incontáveis
vezes deixa interrogações, quanto à sua imparcialidade e cegueira; de quando em
vez só vê com o olho da conveniência, mas adiante.
Perante uma mancha com cerca de oitocentas e vinte mil
pessoas – contabilizando somente as inscritas - que o estado caótico do país
colocou nesta nova oportunidade para mudarem de vida, já pensou na colisão de “solidariedade positiva” que as
palavras que pronunciou tiveram em muitas cabeças, por certo endémicas pelo
desgaste profunda desorientação?
Sr. Primeiro-ministro, quem redige estes pareceres não é um
desempregado, contudo, um rapaz velho, de sessenta e sete anos de idade, “sem
erudição” mas com calo no cú, que por políticas mal concebidas e subdesenvolvidas
por alguns “crânios” deste país, que fizeram então parte da corte do perdulário reinado Soarista, passou também pela
situação que ora V. Exa. sem
pestanejar nem gaguejar, conota como uma
oportunidade para mudar de vida. O desemprego.
Realmente
essa oportunidade para mudar de vida
que o governo por V. Exa. liderado
oferece a muitos portugueses, é de grande amplitude ocasional e justifica
muitas “conjunções”, que actualmente podem encetar a sua expansão desregrada.
Por exemplo: uma nova ocupação mal remunerada, para quem tiver sorte, – isto
acontece sempre, quando a oferta é maior do que a procura - até a oportunidade
de passar noites mal dormidas, se ainda não entregou o catre ao banco, - se
entregou tem as pontes por abrigo e outros locais de grande referência
“turística” que por aí abundam – passando pela oportunidade compulsiva de
emigrar – mesmo que o não seja seu desejo – ou até optar pela oportunidade de
ser um bom vigarista ou trapaceiro, - enquanto não for apanhado – passando
também pela oportunidade mais fácil que é ser um gatunito de meia-tigela, para
custear a sua sobrevivência, - até ser colocado no barraco sob apresentação
peródica de identidade e residência etc.
Uma
oportunidade impensável será arrecadar o subsídio do Fundo de Desemprego.
Porém, Sr. Primeiro-ministro,
quando todas estas e outras oportunidades não mencionadas falharem, ainda
resta, sob forte depressão, a
oportunidade última que é enfiar um balásio nos miolos e emigrar para o
além, onde existem oportunidades sem fim. Todavia, se não tiver narta para
adquirir uma arma ilícita na “escola da noite”, ainda lhe sobra como derradeiro
bálsamo, o recurso a um bocado de cordel, bem forte, que está ao alcance de
qualquer desempregado ou alucinado, quando ele se sentir atacado pelo rechinar
de forte demência e tiver a piedosa certeza de que realmente quer mudar de vida
– árvores não faltam.
É a isto que se chama oportunismo austero, - o que
o país carece para comprimir a despesa – com o objectivo de agarrar a máxima oportunidade para mudar de vida, e está
ao alcance de todos, sem quaisquer distinções!?
Afinal, V.
Exa. tem razão! (?...).
Atentamente.
António Figueiredo e Silva
Coimbra
17/05/2012
PS: Esta carta foi enviada
para variados periódicos.
Obs: ainda não estou em concordância
com o recente acordo ortográfico.
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