A MEDICINA
Se
Deus cura todas as doenças, a medicina
é a ciência mais inútil que existe.
Apesar
da racionalidade do pensamento,
quedo-me
na interrogação do silêncio.
(A. Figueiredo
e Silva)
A
MEDICINA
(Aos clínicos que não
vasculham para além da medicina)
Não sou médico, mas arrogo-me ao direito de expor o que o meu entendimento dita sobre o assunto, que desde sempre provocou dores de cabeça ao Ser Humano - e muitos instantes de introspecção, angústia e interrogação a mim próprio.
São
empenhados diariamente um infindo número neurónios na pesquisa de químicas e
mezinhas, que permitam uma maior longevidade acompanhada por uma favorável qualidade
de vida, por vezes conseguida – mas, o certo é, que ninguém cá fica.
Eminentes
“pinhas” se têm debruçado sobre esta matéria, mas encontram sempre um
barramento inexplicável e enigmático, que transcende a compreensão do mais erudito
cientista.
A
Natureza é tão pródiga na realidade como no mistério. Quando se desvenda um, de
imediato surge o outro. E é pelos degraus dessas surpresas que o Homem vai
palmilhando loucamente pelos caminhos do micro e do macro-cosmos, convicto de
que um dia encontrará o fim do Universo e resoluções para tudo, inclusivamente
para a existência perpétua. Esquece-se de que a ciência, no seu penoso desenvolvimento,
faz paridade com a ignorância. Se uma cresce, a outra acompanha.
Conhecer
a estrutura que compõe o físico humano e o seu intrincado, porém lógico, funcionamento,
não é nada de transcendente; é uma máquina complexa, sabemos, formada por
determinados elementos, com funções específicas, que operam sob uma correlação
precisa entre eles, com um fim único; manter viva e funcional, a totalidade da
estructura da qual são componentes, para a integral formação de um todo. Isto
é, até um limite determinado. Quando é atingido o “limiar” nanométrico da
substância, é que o saber se enreda, tropeça, cambaleia e grande parte das
questões ficam reticenciadas ou mesmo irresolúveis; não direi perpetuamente,
contudo, na razão directa dos avanços científicos, que integram o universo
investigatório – e nunca terminarão enquanto o mundo comercial e a curiosidade
existirem, e o ser humano inglória e cegamente batalhar por uma existência
infinita - aninhada somente na sua ignorância.
É
evidente que todo o emaranhado mecanicista que integra a edificação que faz
fluir a vida, é composto por diversas unidades distintas, não menos complexas
do que o todo, que carecem de especialização singular para uma melhor
compreensão do seu funcionamento e deducional reparação, se necessário e
possível – por vezes a entropia Universal não o permite.
O
mais obscuro e difícil, senão de irrealizável acesso, é o conhecimento da parte
anímica. O que o meio científico conhece, d’Aquela Força Desconhecida que brota
espontaneamente, coordena, e, incrivelmente, anima e transforma toda a complicada
estructura mecânica construída em “carne e osso” (e H2O), num ser vivente, com
todos os sentimentos que actualmente conhecemos – não todos – é apenas uma
ínfima parte da mais reduzida fracção do incomensurável domínio Universal.
Esta
particularidade é que transcende a inteligência de qualquer estudioso por mais
persistente e aplicado que ele seja, e, vezes sem fim, refalsa o diagnóstico
por ele enunciado. É que, a Força Vital consiste na união de duas, ainda que
diferenciadas e “abissalmente” distantes, estão juntas – paradoxal, mas real;
quero dizer, fundem-se numa só unidade que é a vida. São elas, a parte material
e a parte anímica. Qualquer delas não existe sem a outra; sem ambas, não
vivemos. O mesmo que dizer, não existimos. O nosso físico fica à disposição da
antropofagia celular, putrefaz-se e some-se. Isto não é patranha.
Mesmo
aqueles que se têm como entendidos na parte psíquica e física, navegam num mundo
onde as probabilidades caminham mais ao lado da imponderabilidade do que da
certeza, porque, como é inteligível, a lógica incorre em falhas, porque mareia
no oceano dos pressupostos, que são mais do que as realidades. Esse é que é o mundo mais complicado para
estudo do corpo humano. O segredo dos deuses. O calcanhar de Aquiles que o
Homem não consegue desfiar.
De
resto, cada órgão tem uma função específica que por Criação lhe foi atribuída,
para que possa cumprir a sua missão no Universo por um período demarcado e naturalmente
inevitável – a menos que, como por vezes acontece, factores exógenos, venham degenerar
as características integrantes dessas funções.
A
título paradigmático:
O
coração, não é mais do que um órgão de bombagem que se destina à sucção, “compressão”
e impulsão de um fluído – neste caso o sangue – que funciona como “transporte
de mercadorias” nutritivas para todo o emaranhado celular corpóreo.
Os
rins que são os órgãos filtradores desse fluído e fazem parte do sistema
regulador de pressão, denominada por Tensão Arterial, de modo a que este possa
percorrer o circuito sem danificar as tubagens do sistema (sistema vascular),
cuja missão, além de outras, é servir de vias de transporte dos nutrientes para
células do nosso universo pessoal, que nos mantêm vivos, activos e conscientes.
O
fígado, que funciona como armazém recolector de tudo o que possa ser nocivo ou benéfico
ao corpo humano (metabolismo) e fazer a gestão do que ele necessita, libertando
quando é necessário ou excretando para o “lixo” o excedente (catabolismo/anabolismo),
para manter o funcionamento integral da unidade física no estado vivente.
Os
rins, que em consonância com o fígado e aliados ao coração, além de fazerem a
filtragem de “impurezas” contidas no fluído vital, também têm um grande papel na
regulação da tensão arterial, e consequentemente na velocidade do fluído
sanguíneo (hemodinâmica). Claro que, ligados a estes, existem outros
subsistemas de primordial importância que trabalham em harmonia com os
principais, e que sem o seu funcionamento sincrónico, também entraríamos em
colapso ou entraríamos em estado vegetativo.
De
uma coisa estou crente – se não, certo; a parte anímica nunca terá vida se não
houver uma edificação que a sustente. E a parte estructural estará “falecida”
se a fracção anímica desaparecer. Isto é ponto assente e irrefutável.
A
meu ver, para ser clínico não é difícil, conquanto que não deixa de não ser
bastante trabalhoso. Mas, ser competente, é que já será pertinente questionar.
Um
mau médico é aquele que, por diferentes razões, em vez auxiliar na cura da
doença ou no remedeio da mesma, promovendo a recuperação ou aliviando o
sofrimento, pode conceber pessoas ainda mais doentes – ou mais trágico do que
isso.
Então,
que será um bom profissional clínico?
Coloco
esta interrogação, porque alguns, apesar de enveredarem pelos trilhos da
medicina, não foram naturalmente bafejados pela deontologia que um médico ou enfermeiro,
pela profissão que abraçaram, devem integrar. É certo que ninguém se faz e por
isso há muitos “Esganarelo/s
Médico/s à Força” (peça
teatral de Molière), plantados e enraizados em lugares, para os quais, genética,
científica e psicologicamente não foram naturalmente vocacionados - isto não é
patranha.
São
presunçosos por convicção insana, e convencidos de que a vida humana lhes
pertence; são maus ouvintes (a não ser quando algo “metálico tilinta”), porque omitem
que uma boa atenção, por vezes é meio caminho andado para uma cura (sou
daqueles que acredita no domínio do espírito sobre a matéria). A deferência, o
cuidado e a inteligência, devem ser as faculdades primeiras de um bom profissional
de medicina, sem as quais, ele nunca será um douto em matéria sobre a
existência humana, ainda que haja consumido tempo “infindo” na memorização dos elementos
que a integram e lhe proporcionam a integralidade da vida.
Um
bom médico é aquele cujos conhecimentos e aptidão psicanalítica lhe permitem descobrir
em maior número de vezes, a moléstia e o “remédio” para a tratamento da mesma
ou alívio do sofrimento dela decorrente, baseando-se nos queixumes que lhe são
apresentadas pelos sofredores e na capacidade analítica de seu entendimento
nato.
Porém,
o acertar não reside apenas nos conhecimentos adquiridos, (ou supostamente
adquiridos), todavia, em saber evidenciá-los através de um raciocínio lógico e
credível, fundamentado nos sinais lhe são apresentados pelo paciente e na
subtileza da sua erudição, que não é virtude universal. É um dom e é um
talento, que somente a Criação legitima.
Se
assim não for, pode saber todo o todo o abecedário, toda a matemática, toda a
física, toda a filosofia; pode conhecer todos os ossos, desde os tarsos aos
carpos, passando pelas costelas e “costeletas” até à caixa craniana que aloja a
“centralina”; pode até ter decorado todos os componentes e a sua
localização e não ter nascido com talento para saber lidar com as particularidades
nocivas que os corrompem, e apenas reproduzir pareceres às golfadas, em
consequência de uma congestão daquilo que lhe entrou no caco à pressão
(decorado, mas não compreendido), e por razões diversas não lhe abonou a sapiência,
tendo resultado numa deficiente digestão intelectual – congestão de trapalhadas.
É isto. Essa é a razão da presença de muita burrice incapacitante, nesta e
noutras licenciaturas.
Eu
sei que isto dói. Mas é verdade!?
Um
bom médico é aquele que possui os preceitos aqui mencionados, e trata o corpo e
o espírito do seu paciente, como se tratasse o dele próprio.
É sabido que muitas vezes isso não acontece, a
não ser que haja algum impulso material por trás a fornecer-lhe o incentivo,
para lhe aguçar a atenção e fazê-lo bolsar o saber, quando ele existe. Mas é
certo, que similarmente há ocasiões em que se remuneram para nada.
Em
medicina, um especialista, é, dum modo geral, aquele que consagrou o seu saber
à exploração de fracções distintas do físico humano e que melhor sabe manobrar
com destreza e habilidade a tecnologia no momento ao seu dispor, por forma a
reparar ou diminuir mazelas, e não aumentar as já existentes – o que por vezes
também acontece.
Agora,
generalizando, o mais idóneo clínico, é aquele que mais confiança inspira, com
recurso à persuasão e à utilização conscienciosa dos meios tecnológicos ao seu alcance;
porque, como frisou Abel Salazar,
que foi professor de Histologia na Universidade do Porto,
“Médico que só sabe medicina, nem médico é”.
Como
tudo, independentemente da profissão ou da especialidade, todas requerem paciência,
raciocínio, experiência, criatividade e rapidez, para que o seu objectivo possa
ser realizado com o máximo de êxito possível.
É
precisamente a partir de algumas imperfeições neste emaranhado de
particularidades naturais, que resultam os bons e os maus predicados
de um médico, fazendo dele aquilo que merece. Bom ou mau.
Para
terminar e observado de um ângulo distinto, porém com maior abrangência.
Existe
uma luta titânica entre as “leis” do Homem e os Princípios da Natureza; a
medicina propicia a “cura” ou a amenização da maleita (no sentido de remediar),
mas nem sempre. A Natureza contra-ataca com a entropia. Diligencia a desordem
para gerar a ordem.
Lei
da vida! Não só Humana, contudo, Ecuménica. Por consequência, extensível a toda
a matéria que conglutina o enigmático e incomensurável Universo, ao qual a
Grande Força Criadora, está obstinada em vedar a entrada ao ser humano.
Evidenciando
que o
Princípio e o Fim, são constantes, equivalentes e
indissociáveis para todos seres viventes
em geral, (neste caso quero referir-me apenas
aos Humanos), apraz-me resumir:
Para
ser um bom médico, são elementos indissociáveis, prática, inteligência,
perspicácia, força de poder psicanalítico, conhecimento para fazer uso das
tecnologias de diagnóstico e intervenção ao dispor, dedicação, afabilidade e
não se deixar corroer pela psico-adaptação – a enfermidade mais indesejável que
pode minar um clínico – porque é humano.
A
excelência de um médico, consiste, além de outros atributos, na preservação e consagração
da sua “veia de estudante” por toda a vida.
Os
que assim não fizerem, são ultrapassados técnica e profissionalmente, serão
direccionados para o “espaço” do imprestável, que serve de alojamento a meros licenciados
em prescrições farmacológicas.
Opte
por ser um exímio clínico, independentemente da especialidade que domine.
A jactância, a voracidade materialista
e o desinteresse pela actulização da sabedoria, por certo, não conduzem a lado
algum.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
23/02/2022
http://antoniofsilva.blogspot.com/
Obs:
Procuro não fazer
uso do AO90.
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