INAUGURAÇÕES
Não há nobreza na destreza de quem
não sabe por limites à sua esperteza.
(Élis Rocha)
INAUGURAÇÕES
Antecipadamente gatafunharam (ou escreveram para ele, pois muitos nem escrever
sabem), num “papel-de-embrulho”, meia dúzia de termos bonitos e vibrantes, mas desocupados
de recheio, onde são aplicados também uns quantos vocábulos já muito polidos
pelo uso, e lá vai o marmanjo para a efeméride, onde meia dúzia de bajuladores,
lambe-cus e pategos, com caras de macambúzio, que pacientemente aguentaram o
atraso da sua chegada, na mira de um hipotético favorzito ou promessa de tal,
fazem o favor de prestarem uma audição surda, finalizando com um ensurdecedor
bater de palmas, senão mais, para enxotar os pássaros das redondezas.
Actualmente tem havido falta de obras colossais, que realmente mereçam as
ditas inaugurações. Porém, à falta de melhor, num empenhado rebusco por todo o
território nacional, sempre se tem arranjado umas lápidezitas para pôr ao sol e
à chuva a ganhar algas e se poder dar continuidade às inaugurações com firme
propósito de que este cerimonioso ritual não seja varrido das nossas monas por
amnésia temporal, - o que interessa são as intenções. Nesse sentido,
inventam-se uns jardinzecos, uns pombais, uns ecopontos, uns minguados
alcatroamentos, mais umas pontes pedonais e ciclovias. Isto porque ainda
ninguém se lembrou de inaugurar umas casas de alterne, umas alcovas de tias,
umas pocilgas para bácoros ou uns canis para os amigos do homem, ou mesmo umas
latrinas públicas, que, além de servirem para o efeito, diga-se de passagem,
até fazem muita falta para o cidadão mais desafortunado, quando em aperto
fisiológico e que não dispõe de dinheiro para tomar um bagaço ou uma bica, (ou
ambos), aproveitar para fazer uma mijinha e sacudir os pingos excedentes,
gratuitamente.
Todos estes predicados afiguram-se naturalmente hilariantes e ridículos,
mas o certo é que, quase sempre, surtem o efeito desejado. Tornam os
inauguradores mais colunáveis. Isso aumentar-lhes-á a popularidade e, no caso
de serem inaugurações de latrinas, se eles fizerem um donativo do erário
público para o papel higiénico, então... é um gajo porreiro, pá!... Aí merece o
nosso voto.
Também me quer parecer que as coisas agora estão melhores para isso;
aqui há uns bons anos atrás, de vez em quando inaugurava-se uma “pontezeca”
(como a antiga ponte Salazar), sem piada nem préstimo nenhum. Actualmente não é
assim; temos governantes que já inauguram estilosos pombais e no meio de
arrulhos de presunção lá deixam algum para encher os papos aos animais que por
lá ficaram a habitar (?!).
Ao que consta, ainda há uns tempos, o ministro do Mar, – para quem não
saiba, é aquele que comanda as “ondas e as marés” – fez a inauguração de um
ECOPONTO, vulgo, Caixotes do lixo,
em Cascais.
Isto é que são obras de grande envergadura – plastificada –, merecedoras
de apoteóticas inaugurações! No fim devem ser bem azeitadas e temperadas com
uma boa pinga, a debitar na conta do Zé.
Vinham mais inaugurações, “cu” Zé aprecia.
António Figueiredo e Silva
Chaves, 16/08/2021
http://antoniofsilva.blogspot.com/
Nota:
Faço por não usar o AO90.
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