HOMENAGEM A UM AMIGO

 

A verdadeira amizade nunca morre; ela apenas adormece,

para acordar um dia na eternidade.

(Rafael dos Anjos)

 

HOMENAGEM A UM AMIGO

(A título póstumo)

 

É com profunda emoção que dedilho estes baraços de mágoa, como um derradeiro despedir de um grande e verdadeiro amigo que na vida tive a sorte e a satisfação de ter encontrado.

Um ser sustentado por um carácter forte, com discretas nuances de austeridade na educação e no respeito - por si e por aqueles com quem confraternizava. Era bastante tolerante e compreensivo para com os “fracos”, a quem nunca se coibiu de ajudar, quando a carência surgisse e a inteligência, dessa ajuda fosse meritória.

Convivemos o suficiente para que eu lhe dedique estas palavras a título póstumo – agora não há outra forma – como se estivéssemos a dialogar em ritualizada, porém, sempre instructiva cavaqueira, durante algumas passeatas ou aconchegados pela companhia de sacratíssimas e infalíveis benzeduras salivares, ritualizadas com uns repastos, que, embora copiosos, nunca a voracidade do apetite pantagruélico conseguiu ultrapassar a determinação do modesto suficiente.

Entre nós, muitos desabafos se libertaram nesses momentos, que serviam de suavizante para docilizar a azia da existência, que é sempre feita de socalcos intercalados pela firmeza e pelo desalento, que temos de ter coragem para vencer! Desabafámos coisas que não lembram a o Diabo - apesar de ser tido como esperto. 

 Aprendi muito com esta figura, cuja reputação que merece bem o “H” Grande, pela sua conduta em sociedade; como Mestre e como Homem, a quem muitos ainda hoje “devem” as suas posições de proeminência na comunidade. A sensatez e a constância foram sempre as suas montadas para vencer na vida.

Proveniente de uma simpática terrinha transmontana “imigrou” para Coimbra, limar a sua já nata sede de erudição na Universidade aqui existente.

Quando ia de férias – contava-me - fazia-se deslocar de comboio até à localidade de Pinhão, onde um empregado de seu pai o esperava com um cavalo suplente que ele montava e seguia até à quinta onde foi nado e criado, situada na simpática aldeia denominada de Celeirós, pertencente ao conselho de Sabrosa.

Naquele tempo a vida era dura.

Por cá estudou, por aqui casou e construiu família – a vida assim o determinou; mas nunca se esqueceu da sua terra, pela qual nutria um profundo sentimento de orgulho, que sempre manteve até finar. Eu sei.

Sempre manifestou vontade de, “Figueiredo, eu gostava de chegar aos cem anos! – Dizia com um alento de esperança.

Praticamente o Divino fez-lhe a vontade. Só faltava um mês para isso, mas, como a vida não obedece à esperança, plenamente isso não sucedeu, mas… andou por perto.

No dia 26 de junho de 2021, à tarde, deixou de respirar o ar poluído deste mundo e subiu a outro limiar, cuja dimensão transcende o nosso conhecimento, mas que estamos cientes de ser o nosso último lugar, como “matéria” imaterial.

Foi um HOMEM íntegro - em todo o alcance que a palavra deontologia possa conter.

De seu nome:

José Fernando Alves Queirós (mais conhecido por, Dr. Queirós) 

 Se Deus existe, que conceda a paz angelical que ele merece, junto dos justos.

 

Coimbra, 29/06/2021

António Figueiredo e Silva

.http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Comentários

  1. Belíssima homenagem, cheia de sensibilidade. Digo-lhe eu agora
    a si : Figueiredo, eu gostava de chegar aos cem anos - pode ser que assim nos possamos encontrar "em carne e osso"!

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