A TENDÊNCIA JUSTIFICA O DESLEIXO
(George
Bernard Shaw)
A TENDÊNCIA JUSTIFICA O DESLEIXO
(Pilhéria criada para censurar alguma “chavasquice”)
Moda é moda, caramba!
É verdade.
Às tantas foi mudança de maré influenciada
pela lua, sei lá!?
Passou-me
pela tineta, “santificar” uns dias ao desleixo, p´ra ver se ouvia o ruído da
barba a medrar. Então optei por imitar muitos deputados, apresentadores
televisivos, e outros exemplares das nossas “aristocráticas” varas porcinas,
votados ao desmazelo, com a escusa de que é tendência - ainda que achavascado e
piroso, não deixa de não ser respeitado (e conotado, a meu ver), como sinónimo
de badalhoquice.
Actualmente,
verifico que a tendência “talibânica” estrou na berra em Portugal.
Confirmei,
entretanto, que a minha determinação, de curta metragem temporária, nesse
sentido, até me trouxe alguns frutos proveitosos. Além de outros, por mim
considerados de menor importância, quero salientar com particular interesse, o
estado comportamental de alguns seres, que, sendo, nem parecem que o são. Não
direi imigrados do paleolítico, contudo do neolítico, a ver pelo seu
comportamento e figura, no tempo em que a pedra polida era rainha.
Então,
deixei agraudar a barba por uns dias, enfiei um velho chapéu a cobrir o “piso”
do “heliporto” que protege a minha massa racional para que os infravermelhos do
astro-rei não me aferventassem os miolos, vesti umas calças de ganga
desgastadas - o preço das esfarrapadas, está pela hora da morte - protegi o meu
cabedal com o casaquito puído, enfiei umas apalhaçadas sapatilhas com dois ou
três buracos de respiração, nesciamente “embelezadas” com umas enormes e
anedóticas linguetas – como manda a “sapatilha” - e fui sarandilhar pelas
velhinhas ruelas, becos e recantos da baixa conimbricense, apostado em observar
o comportamento do Zé Pagode em relação à minha triste figura - para mim,
tida como anedótica e descuidada. Mas
estava dentro das tendências da modernice.
Os
andantes que comigo cruzavam, olhava-me de soslaio, manifestamente com legitimada
repugnância e outros com sublinhada comiseração; talvez idêntica à daquelas
pessoas asseadas, quando vêm “criaturas” semelhantes a ouriços cacheiros, nas
redes de comunicação visual, e em outros lugares de relevo, onde aparecem esses
desalinhados “gordurentos”, de barba por aparar e as guedelhas, muitas vezes
resumidas três pelos desgrenhados e untados com brilhantina ou repletos
“serradura”, pertencentes à mais pura nata da modernice, onde a incúria se faz
notar – mas é moda, porra! Maneiras que em outros tempos, quando eu era moço,
apenas eram características atribuídas aos palhaços circenses e aos
objectivamente necessitados, p’ra quem a vida na realidade não sorria.
Sei
é que de vez em quando, aparecia alguém de olhar bondoso, que, após revolver a
bolsa ou os bolsos, talvez com mais cotão do que “cacau”, de onde um braço se
esticava na minha direcção com uma moedita entalada entre o polegar e o
indicador, que eu solenemente aceitava e “pagava” com modesta gratulação; não
porque disso tivesse necessidade, porém, para aliviar a consciência de quem ma
havia ofertado, talvez para indulgenciar o peso de algum “pecadelho” que pense
haver cometido - coisas da vida! Analisando desta forma as diversas maneiras de
ser e de agir, dos desiguais elementos que integram nossa sociedade, face às ocorrências
miseráveis que se lhes deparam.
Pude
observar, que para uma mesma coisa, as reacções são distintas, bem assim como
as expressões faciais. Estas, não eram só exibidas sob um ar de repugnância,
desprezo, desconfiança, frieza e rigidez, mas também perante um manto de
complacente tolerância, dó, conciliabilidade, respeito e bem-querer.
Eu
só pensava; que mundo tão esquisito e variado!
Já
perto do meio-dia, com os pés a reclamarem descanso, dei por terminada a minha
andança; não direi com os bolsos atabicados, porém, com algumas moeditas, que
seriam suficientes para uma frugal refeição.
Meditabundo,
ambulei “meia dúzia de passos” e logo encontrei o destino a dar para os patacos
que havia recolhido.
Encostado
a um cunhal, apesar do seu semblante desgostoso, mas que ainda reflectia uma
réstia de alento na esperança de um consolo, deparei com o primeiro desafortunado,
com quem alijei a “carga monetária” granjeada e mais algum, limitando-me apenas
a ficar com as lições de vida, que no fragmento de uma manhã, acabei de
usufruir.
Então
conclui o verdadeiro significado da frase, “Nem só de pão vive o Homem”. Os
ensinamentos, têm uma função principal no seu comportamento cívico, onde não só
a moral está em causa, como também a sua salubridade física e intelectual.
Paradoxal,
contudo, verdadeiro! Por vezes vale a pena andar na moda, mesmo que esta revele
desleixo, e se a robustez da palermice aguentar a crítica.
Bem
ou mal, já fiz a minha parte; agora, vou aparar a barba e tomar um duche
(cantando!), com a convicção de que ninguém irá bater palmas.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,12/06/2021
http://antoniofsilva.blogspot.com/
Nota:
Opto
por não fazer prática do AO90.
Comentários
Enviar um comentário