O EXISTENCIALISMO E O SUICÍDIO
Ainda não sei se um suicida
existiu para se matar,
ou se se suicidou para existir.
Contudo, nunca deixes que
o desânimo seja o teu mentor.
(A. Figueiredo e Silva)
O EXISTENCIALISMO E O SUICÍDIO
O indivíduo que vive um existencialismo puro, sorve o presente e deleita-se como se ele fosse o último trago da sua existência. Não espera nada do futuro, o qual ele situa nos confins do absurdo. A liberdade de existir é condicionada pela morte, à qual ele não tem quaisquer hipóteses escapar com vida. Por isso, para ele, existir é gozar o momento actual, porque o resto apresenta-se como uma incógnita da qual nada sabe, nem se interessa por saber, fazendo assim navegar o seu ego numa pacificidade onde cada acontecimento é um facto existencial e não o começo de um futuro anónimo cuja transcendência o transcende.
A existência
límpida não obedece a planos, a crenças ou a dogmas, cujas algemas prendem o
ser, deformando a sua estrutura natural, transformando-o num simples objecto
manipulado pelos tentáculos insustentáveis de um errado pensar. Não!... Ela
segue somente o desenrolar dos acontecimentos à medida que vão surgindo e, como
um barco impelido pelos ventos de uma grande força de vontade navegando ao
longo da costa existencial, vai contornando os obstáculos conforme as condições
que no momento se lhe apresentam.
O
existencialista, ao contrário do que muitos cogitam, tem fé!... Neste aspecto,
que é semelhante ao religioso, acredita que para além da extinção nada mais
existe; por isso é que vive liberto das preocupações despoletadas por sonhos
reais de irrealidade absoluta, que desaguam no mar abismal do absurdo.
O
existencialismo está ao alcance do homem, assim ele tenha capacidade
intelectual para resistir às pressões que o rodeiam, não com o intuito da sua
redenção, mas tendo como fim o seu afundamento.
Todos os não
existencialistas são vítimas das ilusões preconceituosas, os cilícios da sua
existência que lhes angustiam a vida com a castração do seu ego, da sua força de vontade própria.
Eles não vivem, vegetam claustrofobicamente numa claridade ilusória onde a
escuridão está bem patente. Quando dão conta de que a vida não tem objectivos,
não tem dimensão nem valias, resta-lhes o suicídio como única e última
alternativa de libertação das grilhetas a que estavam acorrentados.
Sucumbiram ao
peso das correntes da ilusão que num sofrimento silencioso arrastaram consigo e
lhe provocaram o anacronismo na forma de pensar por colapso neuronal. Escandalizaram-se
consigo próprios ao verem que existência é bastante efémera, que cai num abismo
sem fundo e numa contradição permanente. Descobriram na sua presença um penoso
suplício do qual tinham que se libertar e naquele momento não tiveram coragem para
o não fazer, porque chegaram à conclusão de que a vida não merecia ser vivida.
Quer isto dizer que viveu a vida e depois pensou-a, quando devia ter feito
precisamente o inverso.
Por isso é muito melhor viver não tão bem
quanto possível, mas tanto tempo quanto a existência nos permite.
O suicídio não
resolve os problemas de frustração criados pelos tais sonhos reais de
irrealidade, como o não existencialista pensou. Não, ele entrou de olhos
cerrados na noite do absurdo e os problemas aumentaram para os que ficaram, que
de certo vão dar continuidade à existência vegetativa, contudo, talvez mais moderada.
Isto acontece
quando o homem não existencialista conclui que o mundo já não tem mais nada
para lhe dar e a sua força vegetativa colapsa sob o peso gelado do negativismo,
que se sobrepõe à vontade de viver.
Em toda esta
dissertação não é minha intenção justificar a morte em si, pois não existe
justificação possível. Acontece, porque é uma consequência da vida.
Com o acto, o
que a provoca já é diferente, uma vez que considero por exemplo “condenável” o
corte voluntário de uma duração, como fuga pertinaz a uma responsabilidade,
real ou forjada.
Suicidar-se
pode ser encarado como uma confissão não de coragem, mas fraqueza, decorrente
de uma razão endémica, postulando que a existência não vale a pena ser vivida.
Viver nem
sempre é fácil, mas separar-se radicalmente da vida, pode considerar-se a
manifestação de que as ilusões e ambições que fizeram parte de um pensamento
fantasioso, ultrapassaram a compreensão do próprio indivíduo, deixando-o
vencido, à mercê de um instinto de loucura, doente e sem vontade própria; no
momento exacto em que toma a decisão de cindir a linha da sua existência, a
vida, ele já não é ele próprio. Já não se reconhece como ser vivente.
Estava morto
em vida.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
27/08/2006
http://antoniofsilva.blogspot.com/
Nota:
Faço por não usar o AO90.
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