O "PROFETA"
As
atitudes de um, podem restringir
a ascensão
de muitos e levá-los ao declínio.
(António Figueiredo)
O “PROFETA”
THE “PROFET"
ПРОФЕТ »
DER PROFET "
Mesmo
passados muitos anos, há momentos de meditação que a sua voz hidrofóbica me entoa
na memória. Lembro-me dos seus excitados discursos de incitamento ao ódio,
sempre intercalados com um, “É ou não éééé?!”. Estas lembranças causam-me
um profuso desconforto emocional que, por mais que deseje, não consigo cindir.
Estava
em sublime quietude, até surgir esta imagem que alguém partilhou no facebook.
Nesse instante, desabou sobre mim uma
chuva torrencial de recordações que eu não queria trazer à tona, não queria
reviver; mas a isso sou obrigado, pela possança das mazelas que, ao que parece,
ainda me aguilhoam o espírito com os seus estigmas.
No
momento em que escrevo estas palavras, sinto
dentro de mim um azedume, que com afincada relutância obstina em não me
abandonar. O tempo passa, as feridas curam, mas as marcas ficam, como baluartes
marcadores de um passado turbulento.
É
manifesto que, para que eu desabafe deste modo, é porque detenho algumas razões
de causa para o fazer. E tenho. Tenho, e sem quaisquer remorsos na minha
consciência, vou continuar a descomprimir.
É
certo que Samora Machel assumiu um enorme papel para a emancipação do
território moçambicano; mas não teve sabedoria nem diplomacia suficientes, para
a libertação absoluta do seu povo e para a continuidade daquele país com o rumo
traçado para uma grande potência económica, com o aproveitamento de todas as
infra-estructuras que por lá foram compulsivamente “abandonadas”, sumariamente
ocupadas ou extorquidas.
Esse bom povo, por ele manipulado, depois de
uma impensada e desorientada orgia “revolucionária” e de numa devassa
consistente dos bens de outros moçambicanos, actualmente vive e sente alguns dos
desígnios que por Samora Machel foram profetizados e por ele difundidos – pode ver-se
no seu discurso, acima referenciado.
Quanto
a isso, os seus pensamentos estavam certos; sendo, por tais razões, digno da
minha vénia; porque justiça, não se resume somente em condenar, mas também
atribuir o valor a quem ele é devido. E, neste caso, foi uma dissertação, em
grande parte, oracular.
Porém,
à parte de tudo, foi um dos maiores racistas e incitadores à violência, que
passaram pelos andurriais da minha existência em África (Moçambique).
Foi
um cáustico atiçador das fogueiras do ódio que colocou muita gente na miséria,
inclusive a maior parte do seu próprio povo.
Foi
ele que incutiu e incentivou, com toscos, incendiados e revolucionários discursos,
o caminho da violência; os roubos de valores, as ocupações indevidas a imóveis que
tinham dono; assaltos a estabelecimentos privados, onde para além dos
desenfreados saques, quando já mais nada podia ser “carregado, os restos eram
literalmente destruídos; foi o “causador”, ainda que indirecto, de muitos
assassinatos e violações; “empreendimentos” que deixaram muitas pessoas só com
a roupa que traziam no corpo (algumas nem isso), e que ficaram psicologicamente
perturbadas para a vida inteira.
Não
estou aqui para entrar em minudências e reportar o que vi, o que vivi ou que
senti; mas somente para aliviar um pouco a pressão emocional que ainda hoje me
sufoca, e manifestar a minha compaixão por aquele povo que tanto tem sido
martirizado; que nunca mais teve uma vida e uma tranquilidade como quando se
encontravam sob a égide da bandeira portuguesa.
De
que valeu? Não foi bom para nenhum dos lados; nem para nós, nem para eles.
A
carência continua a alastrar, os recursos a esvaírem-se, a paz, a anos-luz de
distância, os prédios de 15 andares a germinar e… “capitalistas
pretos que vão tentar explorar outros pretos, estudou um pouquinho e licenciou-se,
tem o seu diplomazito, pronto! Está pronto, está autorizado a explorar.” –
E continuam pobres e sem tranquilidade.
Grande
vidente?! – Em parte, claro.
Aquele
país, que hoje podia ser uma das nações mais prósperas de África, deixou-se
enrolar por outras potências mais manhosas, mais ambiciosas e sem decência, que
se limitaram a sugar até ao tutano (e certamente devem continuar), toda a
riqueza existente naquela grande área situada no conhecido Corno de África, chamada
MOÇAMBIQUE.
Terra
de boa gente, que me ficou atravessada na alma!
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
24/03/2021
Para ler
mais, “clic” em:
http://antoniofsilva.blogspot.com/
Obs:
Evito o uso do AO90
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