O POSTIGO
Escrito por mera brincadeira,
para aliviar a “loucura” que o
confinamento nos quer impingir.
(A. Figueiredo)
O
POSTIGO
Anteriormente, à luz de uma lamparina, ainda acalentava determinadas recticências sobre tão desusado vocábulo, que agora foram desmanteladas pela utilidade que os governantes atribuíram a tão vetusto termo.
Já
não digo, a totalidade dos portugueses; mas aqueles que nos governam, são
possuidores de uns crânios recheados de mioleiras, de uma invejável fertilidade
imaginativa.
Não
me sobram hesitações de que estamos bem servidos.
Nunca
me passou pelo “capacete” que uma pequenita portinhola - quadrada ou
rectangular - embutida em uma porta, portada ou numa parede, antigamente
destinada à “espiolhagem” e à coscuvilhice, fosse agora ressuscitada e aplicada
para fins transacionais de mercadorias e quejandos.
Ainda
bem que temos gente com caco; Deus seja louvado!
Foi
mesmo bem pensado! Porque essa é uma forma eficaz de impedir que as pessoas
ultrapassem os limites impostos, devido às dimensões do tal postigo, que não
irão além de uma fresta, em tempos de antanho, utilizado para vigia velada,
arejamento de cortelhos, currais e outras coisas mais. Se o vírus não troca as
voltas, por aí também não entra de certeza.
Esta
da reinvenção ou ressurreição, do dito postigo, bateu cá com uma bolina na minha
mona, que me tenho consolado de rir. É de maluco, não é?!
Quer
dizer que agora tornou-se tendência cucar pelo postigo, linguajar pelo postigo
– com máscara, como é preceito e dever de gente civilizada – servir vitualhas
pelo postigo e certamente, em átimos aflitivos, - porque não?! - fazer outras
coisas pelo postigo (ou por detrás dele), não é verdade?! É mesmo pela
portinhola que se faz o serviço.
Porém,
ao que parece, tornou-se também normal a “venda de irrealidades” através do dito
postigo; sim, porque do lado de dentro do postigo, a realidade é outra.
É
certo que os devaneios até fazem muita falta, (e os finórios nisso são mestres),
porque, como a sua reiteração ao longo dos tempos tem sido exaustiva, já nos
sentimos agarrados a eles; sendo que, pelo nosso inveterado masoquismo, reagimos
mal, muito mal, às ressacas resultantes, se sua inexistência, algum dia vier a suceder.
Estamos viciados em promessas e crenças que sabemos não acreditar, mas não nos
sentimos emocionalmente confortáveis sem essa imposturas – mesmo que sejam declaradas
pelo postigo.
Acho
a designação tão caricata, para as funções a que se aplica… postigo!
Só
por isso, entendo que é merecedor desta chalaça gráfica, a título elogioso.
Coimbra,
20/03/2021
http://antoniofsilva.blogspot.com/
Nota:
Faço
por não usar o AO90
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