ELOGIO AO CÃO PRAISE TO THE DOG Хвала собаке
O falso é às vezes a verdade
de cabeça
para baixo.
(Sigmund Freud)
ELOGIO AO
CÃO
PRAISE TO
THE DOG
Хвала собаке
Lob zum Hund
நாய் பிராக்சிஸ்
É o ser mais dócil,
mais tolerante e mais grato, que em toda a minha vida conheci. Apesar de não
falar, consegue transmitir o seu estado de espírito através da expressão
“facial”, vincando aquilo que sente, à laia de napolitano, com as diversas posições
do rabo. Contudo, mesmo rosnando ou ladrando, que é a coisa mais natural que
sabe fazer, é muito mais fácil compreendê-lo do que ao homem, seu incontestável
rival.
Diversas vezes
o cão é abandonado, desprezado, maltratado; contudo, perdoando, continua a
lamber as botas ao seu dono ou a quem ele raciocine que o é. Tenho pensado
vezes sem conta, que talvez o homem sinta inveja da maneira de ser do cão, e
por isso o despreze tanto. Se quando Deus criou o homem lhe tivesse incutido o
senso do cão, de certeza que o mundo se apresentaria de maneira diferente!...
Talvez mais humano em vez de mais canino. E digo canino, porque se na boca do
homem fossem semeados dentes de cão, andaríamos todos mordidos ou até mesmo
mutilados. Ele só não é mais cão porque não pode; a sua construção física não
dá para isso, mas a psicológica é suficiente para muito mais.
O homem não
respeita o seu semelhante, os seus chefes, as suas leis, na forma de direitos e
deveres; é pior do que o cão, porque até nem a ele mesmo se respeita. O cão
sabe qual a sua posição na hierarquia da matilha, conhece o seu semelhante,
respeita-o e obedece-lhe e até faz o favor de gostar do seu dono, quando o tem,
independentemente da fartura ou da miséria em que ele esteja metido.
Muito admiro
este animal. O cão mostra ao homem que tem mais de humano, do que homem tem de
cão.
O homem, numa
posição mesmo que baixa, é traiçoeiro e procura não lamber as botas a ninguém;
antes pelo contrário, tenta morder-lhas, e, não contente, urinar no prato que
lhe foi servida a ração; é ingrato por natureza. E se as lambe já não é homem,
mas um ser servil, que o situa num universo muito abaixo do mundo do cão.
Com o seu
olhar dócil e o rabo a meia haste, abanando a cauda e saltando ou com o seu
olhar esbugalhado, orelhas erectas, rabo no ar, pêlo crispado e dentes à vista
ou ainda caminhando de cabeça baixa com o rabo entre as pernas, podemos contar que
naquele momento ele está presente sem fingimentos, pronto para o que der e
vier, de bem ou de mal.
Nada disto se
passa com o homem!? Quantas vezes vem ele de “rabo” entre as pernas, submisso,
solícito, simpático, com cara de sofredor e traz uma “faca no bolso”!... Quantas
vezes ele sorri até fazer doer os músculos das orelhas – quem tem só orelhas –
e no seu interior é só veneno, insensatez, inveja e velhaquice?
O cão não é
assim; faz tudo para agradar ao homem, se bem que este não faça nada para
agradar ao cão, nem ao menos imitar a sua maneira de ser.
Se eu
conseguisse manipular a criação faria uma inversão de dons. Poria o homem a
ladrar e o cão a falar. Acreditem que ele teria muito para dizer, deixando o
homem despido de toda a sua imbecilidade.
Muito mais
haveria para dissertar sobre as virtudes deste nobre animal, mas penso correr o
risco de ser mordido pelo homem, como algumas vezes tenho sido; porém, mesmo
assim e por uma questão de precaução vou vacinar-me contra a raiva.
Posto isto e
mesmo por uma questão de solidariedade e deferência, quero aqui prestar a minha
mais sincera homenagem ao cão, sem distinção de raças cores ou credos, porque
ele conhece melhor o homem do que o homem conhece o cão e muito menos a si
mesmo.
Só por isto,
o cão merece este elogio!... E muito mais.
António Figueiredo e Silva
Coimbra,
15/05/2007
www.antoniofsilva.blogspot.com.
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