“DOMINGO
NEGRO”
(Lamento
e Revolta)
15
de Outubro de 2017
Não consigo apagar a revolta que se hospedou
na minha imaginação, depois de tudo o que vi e ouvi.
Pela forma sequencial como tudo ocorreu,
não restam dúvidas de que houve crime e negligência.
Nuvens de fumo negro com fagulhas à mistura,
despegavam-se da terra à pressa e redemoinhavam desorientadas, antes de subirem
para o espaço só para fugirem do calor infernal que as havia concebido nas
entranhas florestais portuguesas, fruto de uma “cópula alienada”, forçada por
mãos diabolizadas e criminosas, que mereciam ser decepadas.
Por onde lavrou, o fogo lambeu com as
suas línguas tintas de laranja avermelhado, tudo o que se lhe opunha, deixando
atrás de si um rasto de inquietação, destruição, tristeza e morte, levando
consigo, além de vidas, os haveres que muitos, com sacrifício, conseguiram
arranjar durante uma existência. Era o fogo, que como um criminoso sem
redenção, reclamava mantimento. No meio de um barulho cavo, as fogueiras
crepitavam com selvática sofreguidão numa tentativa de sorver a seiva da
floresta, enquanto corpos inocentes se contorciam a rechinar no forno quente
que o brasido escaldante alimentava. Calamidades escusadas, se a compreensão
morasse em todas as pessoas.
O homem ainda não conseguiu domar o fogo
e os criminosos sabem-no; por isso, procuram tirar partido dessa falha, movidos
por interesses materiais, ou tendências psicopatas, que ambas poderiam ser refreadas
através da aplicação de punições severas.
Se assim continuar este inferno de
Dante, que tem acontecido com mais frequência e magnitude nos países onde a democracia
“não estabelece limites”, dentro de poucos anos teremos um planeta desertificado
e cinzento, exposto às baratas – de todos os seres vivos, os considerados mais
resistentes a todas as catástrofes, inclusive, a nuclear.
Claro que estou revoltado! Revolta-me a
passividade regulamentar e a sua “paternal” condescendência, face ao espírito
indulgente que ela carrega.
Enquanto as condenações aplicadas aos
criminosos forem as que temos presenciado, muitos mais “domingos negros” irão
renascer nas épocas sazonais mais próximas.
Ou a lei muda o seu espírito, ou
Portugal ficará cinzento.
Não tenhamos dúvidas.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 24/10/2017
www.antoniofsilva.blogspot.com
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