É
preciso ter dúvidas. Só os estúpidos
têm confiança absoluta em si mesmos.
(Orson
Welles)
TANTO
FAZ, COMO FEZ
Não
é bem assim!?
Podemos dar-lhe as voltas que quisermos,
a sua verticalidade acasmurrada mantém-se inalterável por ter sido gerado ao
contrário. É como a doença da teimosia que, quando se nasce com ela, também se
morre levando-a como companhia.
A iliteracia é um mal que persegue
aqueles que nunca se interessaram pelo saber, esse mundo infindável, sem nunca
pensarem que um dia lhes poderia ser útil na vida.
Surge sempre alguém a arrazoar que não
teve possibilidades porque não foi p’rá escola, arrematando quase sempre, que
tiveram de labutar para suprir a pobreza decorrente das condições em que
nasceram e outras desculpas, cuja futilidade não consigo concordar, porque não
penso que assim seja. Se a vontade de adquirir conhecimento nasce com a pessoa,
ela consegue derrubar todas as dificuldades para o conseguir, ainda que
parcialmente. Como é evidente, ninguém sabe tudo; ainda e sobra muito para
poder desemburrar-se e desentupir, não toda, mas parte da sua ignorância.
Conheci uma rapariguinha, a Adélia, que
era completamente cega e infelizmente deixou este mundo ainda nova, estava
prestes a finalizar o curso de direito na Universidade de Coimbra; o Daniel, já
falecido que dos seus membros, somente movia o braço esquerdo, era um bom
escultor em madeiras, tirou um curso de Belas Artes, casou e constituiu família.
O Carlitos, com os globos oculares
cinzentos por cegueira congénita, foi telefonista, agora é monitor de
informática, repara computadores, é casado com uma simpática senhora, da qual
tem uma bonita menina. O Alexandre, Alex como é conhecido, cegou aos dezassete
anos – salvo o erro – em consequência uma explosão de dinamite numa pedreira
onde trabalhava; é telefonista, tem um óptimo poder de dicção, é casado, com
família constituída e como desporto lucrativo, também se dedica à venda de
imóveis.
O
Guerra (Dr.), completamente invisual, formou-se em História pela Faculdade de
letras da Universidade de Coimbra – morreu na sequência de uma queda da altura
talvez de uns cinco metros, por nesse dia não ter trazido consigo o seu cão
guia – nunca soube o motivo. O Diamantino, Tino, como lhe chamam, é cá da
terra, trabalha na padaria Nova Freixo e dizem que é um empregado competente;
os seus membros locomotores são imperfeitos, o que o obriga a trabalhar numa
cadeira de rodas; também é casado e tem a sua própria família.
Muito mais casos se conhecem, que, se
não fossem insuflados com a indómita vontade de saber para vencer, estes
verdadeiros heróis da nossa sociedade nunca venceriam. E eles venceram!
Perante estas realidades, que não são
únicas, os que usufruem dos seus cinco sentidos, naturalmente que não têm razão
para desculpas.
É por estes e outros exemplos de meu
conhecimento, que não consigo interiorizar justificações lamentosas para a
existência da iliteracia.
Vamos lá a refazer o “S”.
António Figueiredo e Silva
Loureiro, 23/06/2017
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