RUMINANDO O PASSADO

 

 Se o tempo envelhecer o seu corpo,

mas não envelhecer a sua emoção,

você será sempre feliz.

(Augusto Cury)

Pois. Mas aí é que habita o dilema.

Raramente a vetustez não afecta a emoção.

(António Figueiredo e Silva)

 

RUMINANDO O PASSADO

 


Quando o desvairo da juventude nos embriaga, nunca pensamos nas surpresas que o futuro nos trará. Mas, quando iniciamos a nossa descida a caminho do horizonte da vetustez, começamos a sentir que idade, não absolve e Natureza não se compadece.

Então, quando o silêncio é ensurdecedor, desponta a compulsividade da resignação. A vitalidade esfumou-se nos meandros ténues da esperança. Resta apenas um futuro flácido, mas autêntico, que espera por nós sem comiseração. Como é hábito dizer-se, é a vida! Ah, pois é! Tudo trás e tudo leva.

Bastantes “tombaram” mais novos, e outros, com “mais sorte”, nem chegaram a nascer. Para aqueles que foram existindo e atingiram a longevidade, que não é privilégio de todos, usufruíram de muito tempo no palco da vida, para exprimirem “tudo” o que lhes imperava no espaço da emoção; mas, por imperativo dessa vida, posteriormente abrigaram-se, debaixo da capa silenciosa dos seus sonhos passados, e, à medida que o tempo se vai esgotando e as fantasias, ainda que frouxas, prosseguem, sentem que o futuro, como enguias lodosas, está a fugir-lhes das mãos.

Aparentemente taciturnos e com expressão absorta, tranquilos ou ansiosos, aguardam pelo advento dia “D”. Mas, até que esse momento se consume, - porque não tem dia nem hora marcados -, no seu aparente silêncio vão fazendo uma barrela à memória, para um ajuste de contas consigo próprios, na tentativa inglória de limar o passado; fazerem o que não fizeram e deviam ter feito, e desfazer o que deviam ter feito e não fizeram.

Estas, são concepções que assomam à mente daqueles que ainda conseguem raciocinar, e de vez em quando rompem a barreira do seu mutismo, em tom de desabafo lamentoso; “ai, se eu soubesse o que hoje sei”!?

Mas já é tarde! A Natureza não consente.

Portanto, sou apologista desta: “Envelhecer é passar da paixão para a compaixão”.

(Albert Camus)

 

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 29/09/2025    

  

Nota:

Não uso o AO90.

 




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