ABENÇOADA SEJA A INSÓNIA

 Encontrei esta “simples” anotação por mero acaso, quando estava a vasculhar alguns dos meus envelhecidos registos, e, como não podia deixar de ser, todos bordados com teias d’aranha, mas com muitas surpresas.

Esta, como tantas outras, já se me havia evaporado da memória.

Pela sua “piada” e para recordação – às tantas amarga -, de muitos portugueses, optei pela sua republicação.

 Coimbra, 13/08/2025

 

 


Sei que os mortos não falam;

mas fala a história por eles.

Eu registo para essa cronografia.

(António Figueiredo e Silva)

 

 

ABENÇOADA SEJA A INSÓNIA

 

“Eu teria grandes preocupações se Cavaco Silva ganhasse as eleições”.

(Mário Soares)

 …”Também não dormirei descansado se Cavaco Silva for presidente”. Recordam-se?

O sr. Mário Soares certamente tentou captar a piedade dos portugueses!... Coitado!? Já não tem mais nada para dizer. Diz destas coisas que não passam de simples banalidades cuja utilidade só presta para deitar fora.

A mim pouco incomoda que ele não durma descansado. Até vou gostar, porque desde que ele chegou a Portugal vindo do “exílio” e tomou as rédeas do poder, eu é que nunca mais dormi descansado até hoje; todavia, faço questão em dizer porquê. Porque estive em África. Combati para defender a honra da bandeira, à qual orgulhosamente dediquei o meu juramento. Assumi sem reservas a minha posição de cidadão. Eu sou daqueles empecilhos que ainda está vivo, para falar à viva voz por muitos dos que ingloriamente sucumbiram à metralha do inimigo, ou foram raivosamente chacinados pelas suas negras armas brancas. Tenho arrastado atrás de mim uma força diabólica e expressado revolta e a indignação de todos os que não puderam, ou não podem falar tudo o que sentem em função do que aconteceu.

Porque tive a minha família, como tantas outras, num campo de refugiados, que um país por misericórdia abriu para o efeito.

Porque senti na pele e na alma, a traição da “Descolonização Exemplar”, assim apelidada pelo sr. Mário Soares.

Porque eu fui espoliado, perdi o emprego, perdi a “minha terra” e fui abandonado à minha sorte e de mãos vazias, porque até o dinheiro não tinha valor.

Tudo por culpa de quem? Do sr. Mário Soares e da sua camarilha.

Não estranho, pois, que tenha havido insultos durante a sua campanha às Presidenciais, uma vez que existem recalcamentos acumulados e estigmas calejados que teimam em não desaparecer, e se mantiveram durante anos sob uma pressão raivosa que aumenta na razão directa do avanço da idade, tornando o discernimento analítico mais puro. Por isso, os insultos, mesmo que nos pareçam exagerados, têm uma razão de ser, por decorrerem de cabeças loucamente dominadas pela sede de retaliação. Está mal!?... Sei que está; mas se dermos sempre a outra face depois de já termos apanhado na face oposta, nunca deixaremos de apanhar no focinho. Se todos aqueles que não gostam dele, excluindo os que se alimentam de interesses politiqueiros, pudessem dizê-lo em uníssono, Portugal sofreria, tenho a certeza, um desmedido abalo telúrico.

Como eu, existem muitos milhares que pensam da mesma maneira. Não sei é como o sr. Mário Soares nunca teve a consciência pesada e conseguiu dormir descansado até agora, depois de deliberadamente ter “adormecido” os néscios dos portugueses.

Estes queixam-se agora de maleita artrítica monetária; a classe média, barómetro de qualquer economia, veste-se de seda fingida comprada aos chineses e sapatos de plástico, pura imitação de pele, onde o odor da miséria continua a minar no sombrio trajecto do futuro.

É evidente que não foi sempre ele que esteve na governação, mas foi quem deu início à fermentação deflagradora desta caganeira democrática e perdulária, que governo após governo, tem desidratado a economia, debilitando a nossa segurança e pondo em causa a nossa soberania.

Por isso, não me causa qualquer constrangimento que o sr. Mário Soares morra acordado. Ao menos tem a possibilidade de ver o que lhe está a acontecer, - o que não é privilégio de toda a gente.

Pelo menos eu, quero ver se consigo dormir não totalmente, mas um pouco mais descansado! Assim ele não ganhe.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 12/12/2005

 

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