VOU MORRER


 

Os covardes morrem várias vezes

 antes da sua morte; o homem corajoso

experimenta a morte apenas uma vez.

(William Shakespear)

 

VOU MORRER

 

Disso não alimento quaisquer incertezas.

Mas, só p’ra chatear, quando eu embarcar, não direi nada a ninguém. Prefiro manter o silêncio! Porque fala num tom mais elevado e é mais percebível, do que a mais iluminativa dissertação.

Por outro lado, se o fizesse, entendo que iria sentir-me mal, por causa de alguma inveja manifestada por aqueles que gostariam de ter tido a minha sorte, mas, por apavoramento congénito, têm ambulado a chispa-se dela.

Sou mesmo um maluco varrido, não sou? E obstinado.

Sempre assim foi e não me interessa do que esses cobiçosos possam pensar de mim. Se a inveja que sentem fôr de grande carrego, como o qual eles não suportem, que não se abespinhem; podem sempre arranjar uma corda e encontrar uma trave ou uma árvore vetusta, com sombra frondejante e com um ramo robusto para dependurar a “guita”. Depois, é só decidir!?

Meus amigos – e inimigos também. Sim, porque quem não tem inimigos, digo-o com toda a firmeza, não vale a ponta d’um corno.

 A vida obedece é uma dinâmica que desconhece o que em física é apelidado de inércia. Porque, mesmo inerte sei que esse movimento energético não se finda. Mesmo tudo o que à roda existe fora daquela que consideramos matéria mineral ou outras, toda ela, na sua estrutura, existe movimento contínuo e infindável, que renova a sua energia a cada “nanossegundo”.

É o Princípio do Universo, do qual toda a matéria visível e invisível faz parte integrante.

Como tal, a “morte” de qualquer matéria, será a energia de outras substâncias. Quem são, ou o que são, essas outras essências, a mim pouco ou nada me interessa ou preocupa. O que tem que acontecer, acontece, quer queira, quer não.

Agora, com minha vetusta idade, e apesar dos meus parcos conhecimentos da Força Criadora do Infinito, concluí que a Natureza me criou- como carne p’ra canhão.

O que acontece, seja de que forma fôr, mesmo depois de deixar de bulir, ser torrado, desossado, enterrado, podre, ou siderado pelos raios do sol, por ter ficado à mercê dos abutres, ou caído numa ravina, e, inerte e frio, ter ficado à disposição de necrófagos, que entre habituais disputas entre si, me vão arrancar fanecos graúdos ou bocados micrométricos daquilo que de mim possa restar, - até esvaziar o “cabaz”, eu farei sempre parte da Massa Cósmica, e da Energia que lhe mantém Sua Vitalidade e Dinamismo.

A partir daqui, é mistério.

Uma incógnita, que jamais a ciência humana conseguirá desvendar.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 25/12/2024

 

Nota:

Não faço uso do AO90.

      

 

 

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