PEDRITO (Uma história real e comovente)
Escrita e publicada há quase vinte
anos!
Movido pela sua realidade e sentido
comovedor, republicá-la.
O Pedrito, já deve ser um homem,
com os seus vinte e cinco, vinte e seis anos; o seu “pai”, Paulo, - este nome é
real -, já se encontra há largos anos, na outra banda deste mundo.
Foi uma das belíssimas pessoas que
fez parte das minhas amizades.
Paz etérea à sua alma!
(A. Figueiredo PEDRITO
(Uma história real e comovente)
Cada vez que vou à baixa
Conimbricense, disponho sempre um bocadinho do meu tempo para umas brincadeiras
com o puto, que por sinal, é bastante castiço e conversador. Nota-se a
vivacidade no seu olhar, mas quando abstraído nos seus folguêdos, existe um
toque de tristeza no semblante da sua face angelical.
Acabei por saber que
Isabel, sua mãe, é bastante fria e ostracizadora para com ele. Na sua rude e
abandalhada maneira de ser, não lhe dá o “pão” que ele mais necessita para uma
vivência sã: o carinho. Ela “trabalha” como polidora de esquinas, subsidiada
pelo rendimento mínimo garantido, incentivo do Governo para quem quer poupar o
trabalho, e mais alguns proventos de pouca lisura que provavelmente se situam
fora das linhas estabelecidas pelos usos e costumes considerados normais, da
sociedade em que vivemos.
O Quim, seu pai, (?) que
pega de empurrão, não dá ao Pedro qualquer ponta de atenção, até porque saiu de
casa há uns tempos largos para abraçar uma nova vida híbrida, onde as massagens
rectais são a normalidade do seu viver.
O “padrasto”, que é da
mesma laia, mas de vícios diferentes, em relação à criança, nem aquece nem
arrefece. Com uma indiferença bem marcante, é como se aquela alma pequenina não
existisse.
- “Noutro dia bi o
Quim na Televisão in Lisboa, com mais muitas pessoas” – confidenciou-me
o Pedrito na sua esperta inocência! Disse à minha mãe, olha ali o Quim!... Ela
disse que num era, mas eu sei que era!? - Criança sim, mas tolo,
não!?
Indaguei junto da
vizinha, a Ti Gertrudes, dona de uma pequena mercearia e algumas moscas,
tendo-me ela segredado que o pai do menino tinha ido a uma manifestação de panascas em Lisboa e que realmente apareceu no meio
de uma cena reportada pela TV.
Coitada da criança!...
-Disse ela em tom piedoso. Com um pai que é assim, um “padrasto” que não presta
e uma mãe que vale outro tanto, o que há-de ser desta criança? Não têm juízo.
Mandam-nos vir e depois é como se vê?!
Que dureza de carácter e
perfeição formativa poderá vir a ter este menino e outros à sua semelhança,
metidos em pútridos ambientes como este? Se o solo é ruim, dificilmente dará
bons frutos.
Ele andava a brincar com
uma bolita. Quando me viu, largou tudo e correu ao meu encontro.
Acedendo ao seu convite, voltei a ser criança
como ele e entrei no jogo, como o gato e o rato. Por ali andamos uns largos
minutos, procurando minorar a falta de atenção que lhe era “negada”, até que os
compromissos me bateram à porta e eu tive que me despedir daquela agradável
criança.
De mansinho, chega-se a
mim e diz-me com ternura:
-“Faz de conta que és meu pai”!?...
A surpresa e a comoção
foram de tal ordem, que fiquei quedo, atónito e gago!...
“Faz de conta que és meu pai”!!!
Dá que pensar!...
António Figueiredo e
Silva
Coimbra 25/03/2005
https://antoniofsilva.blogspot.com/
*Este acontecimento
passou-se há poucos dias,
com um amigo meu chamado Paulo, único
nome verdadeiro nesta história comovente.
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