ESTOU FARTO DELA!
ESTOU FARTO DELA!
(Uma “estória de amor platónico”)
Sinto
grande dificuldade em suportar a pressão psicológica a que ela me pretende sujeitar.
É
chata e entediante p’ra burro! Quando me apetece deslocar para qualquer lado,
sou obrigado, mas a contragosto, por uma questão de compromisso legítimo, a
gramar a sua companhia, que, apesar do pouco “cartuxo” que lhe dispenso, ela
não me larga. Sempre colada a mim como um carrapato, quase não me deixa respirar,
obrigando-me, com uma tensa força elástica a beijá-la, mesmo contra a minha vontade.
A demonstração do seu amor é tão grande que quase não me deixa respirar.
Nunca
transmite nada. É deveras exasperante e ao mesmo tempo opressivo o silêncio da
sua companhia. Isto leva-me a ter ideias e sensações onde a claustrofobia se manifestam.
Posso
falar com amorosa meiguice ou barafustar como um louco, que dela não sai um
único pio de reconhecimento ou reprovação. Faz de conta que estou a falar para
uma parede.
Com
uma serenidade que lhe é distinta e somente para me enfadar, por vezes em
maneira de gozo, ainda me atira uns chapadões hidrosféricos, que me acertam nos
óculos só para ver se me perturbar a visão. Vingança? Talvez. Mas careço da sua
companhia, e como tal, limito-me a “comer e a calar”. E ela, “nem chus,
nem mus”. E assim vamos dando as nossas passeatas imbuídas num falso romantismo
amoroso, até à primeira oportunidade que surja para a poder afastar de mim por
algumas horas. Aí surge um alívio indescritível, como se me tivessem
desamarrado um colete de forças. Ah! – Suspiro! Após haver inalado sem constrangimento,
umas golfadas de ar “puro”. Aaah! Como é linda e valiosa a liberdade, depois de
um período, ainda que pequeno, sob o seu condicionamento!
Mas,
“voltando à vaca-fria”, ela teimosa como o raio-que-a parta. Estou mesmo
fartinho.
Muito
tenho pensado em divorciar-me, mas as circunstâncias da vida não me têm permitido
ter essa oportunidade, porque fui obrigado a “casar“ com ela; aguentá-la até ao
resto dos meus dias, com o sacrifício da minha liberdade pessoal, e com total
submissão à sua impertinente teimosia; sustentando o carrego de todos os seus
desmandos e birras, grudados à constituição física que lhe confirmam a realidade
palpável, que, apesar de amorfa, tacitamente diz tudo. Diz muito! Fala muito e
muito alto, no silêncio do seu corpo fibroso, com alguns “microns” de
intervalo entre os filamentos que lhe dão forma.
Mas
compreendo que não devo prescindir da sua companhia, que, apesar de “mortificadora”,
me confere alguma protecção.
Para
as pessoas que possam possuir “conceitos perversos”, quero afiançar-lhe que…
ESTOU
MESMO FARTINHO DA MÁSCARA!
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
30/03/2021
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