(...) UM FIASCO (repetição)


NOTA: CRÓNICA ESCRITA EM 2002
(Ainda dizem que não há bruxos?!)

(…) UM FIASCO (Repetição)

Nunca afiancei a coesão da Europa!... E agora, muito menos.
Quando nos lambuzaram com umas pinceladas de silicone político e umas coroas a “fundo perdido” à mistura, conseguiram iludir a já de si débil visão dos nossos governantes para um vínculo lodoso, revestido por um areal movediço de sacanice, a minha convicção foi sempre de abundante incredulidade. Mesmo com as minhas reticências, pelo negativismo, claro, aparvalhadamente cheguei a pensar com os meus botões, obviamente com razões assentes em remota esperança, que talvez esta jorda convalescesse, o que de facto e lastimavelmente não veio a ocorrer.
O capital continua com o seu poder desenfreado, investigando e aplicando todos os meios ao seu alcance para atingir os fins a que se propõe: rilhar, massacrar, comprimir, reduzir à pequenez mais próxima da comiseração os elementos obreiros da sociedade, para promover uma franca exploração guiada por rédeas tensas de couro crú, de uma escravatura sem limites, onde é recusado o direito à aplicação de quase todos sentimentos concernentes ao ser humano, com a substituição das pessoas por desumanizados dígitos.
O que os países que se tachavam com direito a serem Senhores Feudais da Europa fizeram, não foi mais do que um premeditado investimento a longo prazo, com o fito de explorar até ao tutano as autonomias que, cegas pela quimera, voluntariamente se colocaram em perigoso posicionamento de debilidade económica, em vez de optarem por um traçado de estratégias que lhes permitisse serem, já não digo total, mas parcialmente independentes.
Ninguém nos ensinou a pescar mas “deram-nos” peixe; agora obrigam-nos, coagidos pela inegável necessidade em que nos encontramos, a pagar o que anteriormente devorámos, o que estamos a mastigar e aquele de que indubitavelmente vamos carecer, para, pelo menos, mantermos o bandulho em remediada, porém tremida actividade. Isto adicionado a uma agiotagem ambiciosa que se movimenta com toda a brida sobre rolamentos de insuportáveis juros, razão pela qual nos está estancar a “auto-respiração”, colocando-nos a independência cada vez mais distante.
O descontentamento é generalizado; todavia a sua realidade, que é um facto sentível, visível e “palpável”, continua a ser diagnosticado por uns milhares de oportunistas, parasitas, parvos e imbecis, como um sentimento resultante de um negativismo insalubreNão!... O pessimismo está bem patente por razões de causa objectivas e não por ligeiras mazelas“Os senhores do leme” é que querem ter uma visão estrábica da situação, porque o deles está sempre garantido. Não sei é até quando.
Certamente que não será no meu tempo, mas como o que tudo ascende, obrigatoriamente tem que baixar, essa cambada ou os continuadores dela, mais cedo ou mais tarde irá pagar por isso.
A sublevação dos escravos ainda não deflagrou, contudo, está em moderada fermentação nas cubas do desânimo, atiçada pelas chamas do descontentamento e da raiva, que aumentam o seu calor à medida que a ambição de uns vai crescendo em inversa proporção à descida a caminho da miséria dos outros, que constituem o grosso da massa da uma maioria inexoravelmente desfavorecida e selvaticamente sugada.
Podemos verificar que o Mundo está em agonizante convulsão e que a todo o momento poderá rebentar pelas costuras, contudo, quero apenas referir-me à Europa.  Os mentores desta neo-trapalhada, teriam feito melhor se não tivessem juntado os trapos para construir uma manta rôta continental além de terem o cometido o estúpido erro de palmatória que consistiu no abrir incondicionalmente as fronteiras, facultando a descontrolada entrada e circulação à balda a um aberrante número pilha-galinhas de senso varrido, sem quaisquer princípios, que não respeitam as regras dos países que lhes deram guarida e que com incrível e debilitada complacência ainda lhes consentem os “golpes”.
A COESÃO EUROPEIA, NÃO MAIS FOI DO QUE UM FIASCO, UM FRACASSO.
Esperem, roendo as unhas em sinal de aparente quietação e vão assistir de certeza, num prazo, não tão longo quanto isso, ao seu desesperante e calamitoso desmembramento.
As criações híbridas geralmente têm uma breve existência.


António Figueiredo e Silva
Coimbra
23/05/2002

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