NOVO "LINGUAREJAR"
A única coisa que
devemos respeitar,
porque ela nos
une, é a língua.
(Franz Kafka)
NOVO
“LINGUAREJAR”
(“Pérolas”
do Novo Acordo Ortográfico)
Para
dar a vitalidade devida a esta resenha, quero partir do princípio de que a
língua, na verdadeira acepção da palavra, é a identificação de um povo. É a sua
alma que lhe dá essência e que promove a sua união, o elo do seu entendimento e
o catalisador e transmissor dos seus usos, costumes e tradições, dentro de uma
mesma pátria.
Não estou em desacordo com a evolução linguística,
pois esta deve-se à inserção de novos termos, intitulados de neologismos, que
são naturalmente captados por osmose, procedentes de outras culturas, de outras
gentes. Já não poderei estar em inteira anuência quando são cavacadas ou
enxertadas nas palavras alterações na sua estrutura gráfica susceptíveis de
mudar parcial ou radicalmente o seu sentido em relação ao que era usual e que a
muitos tanto custou a aprender – com recurso, por vezes abusivo, à prestimosa
ajuda de uma abnegada e austera “professora“, apelidada de, palmatória.
A “alporquia” confeccionada na nossa
língua e escriturada no Novo Acordo Ortográfico, a meu ver, é tida como uma
metamorfose que resultou numa evolução no sentido inverso da palavra, “involução”,
contribuindo deste modo para fraccionar determinada credibilidade no espírito linguístico,
com recurso à coerção de uma injecção de hibridismo no ADN da tradição do nosso
povo. A
língua.
Posso não entender patavina da língua
portuguesa, mas julgo saber o bastante, para proceder à tecelagem da presente crítica,
onde a minha revolta, agreste e ironicamente se manifesta. Neste alvalade, que
congrega o educacional, e consequentemente o cultural, procuro ser um
intransigente puritano.
Afinal, não houve um acréscimo de novos
vocábulos, porém, uma alteração substancial na estructura dos já existentes,
que, em vez promover uma suposta facilidade no leccionamento e no aprendizado,
veio gerar uma barafunda tempestuosa, que por sua vez provocou um aluimento nas
práticas doutrinais há muitos anos ministradas, para a formação das palavras,
que ficaram a boiar em terreno lodacento, perdendo algum vínculo entre si.
Chamo à colação alguns exemplos, que só os
“puristas”, obreiros das alterações alusivas ao referido acordo podem
justificar, e não eu, um simples e artesanal arranhador do nosso idioma, a quem
o moderno “polimento” abastardou o seu parco saber e abanou o seu orgulho, no
que concerne à ortografia e fiel interpretação da Língua Portuguesa:
Acto =
Ato - (Se te apanho outra vez no acto, ato-te todo!).
Facto =
Fato - (Pelo facto de o fato ter sido executado por um bom
alfaiate, até assenta bem!).
Pára =
Para - (Pára aí! Para onde vais afinal?!).
Pêlo =
Pelo - (Olha que eu passo-te a mão pelo pêlo!).
Espectador =
Espetador (Sou um espectador
condoído, pelo triste e sádico espectáculo que está a ofertar o espetador,
ao espetar o animal).
Pacto =
Pato - (Arroz de pacto, nunca provei;
mas de pato, até é muito bom.
Falámos =
Falamos - (Já falámos uma vez, ou falamos novamente?).
Pôde= Pode - (Se não pôde, é porque não pôde;
mas agora que pode, vamos a isso).
Pôr =
Por - (Será um verbo, ou uma
preposição? São tão idênticos, que fico a oscilar entre a certeza e a dúvida de
como pôr o por, no seu devido
lugar).
Prática =
Pratica - (Quem não tem prática, pratica; pois só tem prática quem pratica).
É engraçado, “atão num” é?! É “dificientemente
difrente e tamém devertido”.
Antes de ultimar, e a título de caçoada,
vou expor ainda os dois minúsculos parágrafos sequentes, que, apesar do seu
reduzido espaço, poderão albergar um enorme significado nas entrelinhas:
Estava
eu sentado sobre um calhau a matutar na porca da vida com a minha observação
direcionada para as águas borbulhantes de um riacho, quando, um quase
imperceptível ruído de qualquer coisa que se arrastava me chegou aos tímpanos, “clamando”
pela minha atenção; procurei localizar a sua proveniência, e, para meu espanto,
observei que era um
cagado; olhei bem, e era
um cagado de fato, acabado de sair da correnteza
ribeirinha.
Muito
engraçado por sinal, lá ia ele vagarosamente vencendo a inércia da sua dura e
luzidia carapaça, como se tivesse todo o tempo do mundo para chegar ao seu
destino. Após minuciosa observação, concluí que era de facto um cágado, e por causa das dúvidas, pude certificar
também, que o seu “fato”
não ia nada borrado
(cagado).
Para muitos que mal sabem escrever, como
eu, surgiram agora no céu estrelado da linguística, uns “iluminados” que, com a
imposição de novas regras, vieram “infernizar” o universo da existência literária
com palavras, cuja estructura foi alterada, ou por forma “distinta”, adulterada,
na sua “fisionomia” gráfica e fonética, cunhando algumas, dos díspares significados.
Logo, como ainda estamos com as mãos na
massa e o estrugido para arroz de pato,
ou de pacto (ortográfico),
ainda não está bem apurado, poder-se-ia – sugestão minha – proceder à
substituição da palavra
linguistas por linguiças;
claro que não têm o mesmo significado nem a mesma ortografia, contudo, como na
língua lusófona o seu timbre é aproximado, este, requintado por congeminada
analogia adulterada, lá irá dar ao mesmo.
Quero
aqui manifestar a minha discordância inerente ao Novo Acordo Ortográfico,
sublinhando a revogação do mesmo.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 17/10/2019
www.antoniofsilva.blogspot.com
Nota:
Para
que não subsistam dúvidas, quero frisar que
alguns
vocábulos apresentados por mim como exemplo,
não
são fieis ao AO90; todavia, foram deliberadamente
caligrafados
com o intuito de apresentar a misturada que
deste
Acordo pode resultar, e reforçar o meu sentido
de
chacota e reprovação do mesmo.
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