A ABSTENÇÃO


Se o homem faz de si mesmo um verme,
 não se deve queixar quando é pisado.
(Immanuel Kant)

A ABSTENÇÃO

Compreendo perfeitamente que o que motiva a abstenção é a falta de confiança que o povo alimenta sobre os nossos políticos, porque não têm tido a capacidade de serem transparentes nas suas acções. Reconheço também, que a culpa é exclusivamente deles, porque, muitos não se têm comportado como pessoas de bem, onde a honestidade devia uma evidência, e tem vindo a suceder precisamente o inverso.
Na sua maioria, não têm feito mais do que governar a si próprios, aos familiares, amigos e conhecidos, em detrimento da amargura do povo que, diga-se com a máxima franqueza, peca por ser manso e ter um comportamento igual ao do gado lanígero, submetendo-se por isso, com lânguida meiguice e sem dizer mééé, à perversa determinação de “pastores” astuciosos que o conduzem ao campo de pastorícia onde, depois de inteligente subtracção, apenas restam umas migalhas de alimento.
Se a maior parte dos elementos que constituem um órgão de soberania, não são pessoas de boa índole e tendo em conta que a soma das partes é igual a um todo, como pode um governo ser considerado como uma pessoa de bem? Impossível.
É evidente que o povo está desacreditado, e estou em crer que esta apatia e resignação que leva à abstenção, resulta daquilo que em psicologia é chamado de psico-adaptação. Quer isto dizer, acomodação uma situação, ainda que expressando lamentos, sob a constrangimento de um conformismo que pode considerar-se doentio. Chegando a este estágio psíquico, floresce a indolência que lhe afecta a vivacidade, o desapego por tudo o que o rodeia e afronta, inclusivamente a sua estabilidade, não se incomodando com o andamento ziguezaguiante da carroça, vá ela para a esquerda ou para a direita.
Eu penso que esta apatia tem de deixar de existir, se não, por falta do voto refreado dentro de muitíssimos elementos da nossa comunidade, e considerando que além dos sensatos, os extremistas nunca faltam ao sufrágio, pode acontecer que isto algum dia possa dar uma cambalhota perigosa, com resultados catastróficos, que podem levar muitos anos a eliminar.
Perante o arrazoado que acima acabei de escrever, entendo que o voto deve ser considerado uma acção, além de cívica, com obrigatoriedade tutelada por lei; como tal, carente de penalização, a menos que uma justificação legitime tal impossibilidade.

António Figueiredo e Silva
Coimbra 27/05/2019



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