A INVEJA
Na sombra dos
nossos admiradores
escondem-se sempre
alguns invejosos.
(Marcus Deminco)
A
INVEJA
Apelido a cobiça como o camaleão social, porque
é dotada de um apurado mimetismo podendo por isso manifestar-se das maneiras
mais díspares, que podem ir desde de amizades fingidas a factos visíveis, mas
sempre tentativa de danificar o invejado, sem que este tenha cometido algo de
anormal, que o tivesse merecido.
As emoções germinadas da cobiça,
invariavelmente promovem efeitos contrários aos pretendidos pela loucura
ferrosa dos ambiciosos; estes dilaceram os sentimentos daqueles que a alimentam
e amplificam as mais valias dos invejados.
Ao longo da minha vida, parte da qual
dediquei muito do meu tempo ao ensaio colectivo, cheguei à desgostosa conclusão
de que as nossas capacidades intelectuais, físicas e materiais, quando estão no
caminho certo, são certificadas pela inveja dos fracos de espírito, independentemente
da sua condição de vida, faustosa, média ou “miserável”; estes estes últimos são os menos perigosos; aqui
quero referir-me ao miserabilismo intelectual, que é o que mais pode afectar o ambicioso,
transformando-o num doente compulsivo que o leva a um sofrimento masoquista e
só o abandona após a morte – mesmo assim, não sei o que se passa do outro
lado!?
O antídoto para a inveja é andarmos
direitos por onde passamos, sem que ninguém nos puxe o casaco; quer isto dizer,
sermos pessoas de honra onde a palavra tem valor, não sermos intrometidos na
vida alheia, não fazermos julgamentos de valor em branco, sermos austeros nas
nossas relações familiares e sociais, e, acima de tudo, quando nos
prontificamos a abrir o orifício bocal, (nos invejosos tem a designação de
trombone), termos a certeza do que dizemos, porque os trombonistas, que não
passam de mentes pobres, das quais, na ausência do bom raciocínio o raquitismo
psíquico se apoderou, confinando-as ao um espaço limitado, que é ocupado por um
campo estéril onde opinião válida e saudável não consegue subsistir.
Apesar da nocividade largamente
esparrinhada pela inveja, ela também possui o seu quinhão de benignidade; serve
para revelar as capacidades boas que integram os abençoados, que, por mentira
que pareça, aos invejosos produz ácido fórmico no seu íntimo ganancioso onde a
pobreza de senso é uma realidade.
Estou convicto de que se a inveja matasse,
meio mundo não existia. No entanto devemos aproveitar os julgamentos dos
invejosos para construirmos com eles as rampas de lançamento que nos podem
levar ao sucesso. Seguidamente, é um consolo poder mirá-los da cumeeira da
nossa alcândora, e, com austera humildade, devemos continuar a tolerar os seus
latidos hidrofóbicos de sofrimento, enquanto no nosso silêncio espiritual, ao
pensarmos naqueles pobres diabos, podemos murmurar: perdoai-lhes Senhor, que
não sabem o que pensam.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 12/04/2019
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