OS AVÓS
Não há nada mais
gratificante do que o afecto
correspondido e nada mais perfeito do que a
reciprocidade de
gostos e a troca de atenções.
(Cícero)
OS
AVÓS
Que
não subsistam dúvidas; eles são as figuras mais emblemáticas da família, que
marcam profundamente a nossa maneira de ser. Com a madureza da sua sabedoria e
a sua paciência ilimitada, estão sempre prontos para aturar com muito carinho e
um condescendente sorriso na face, as traquinices e as birras dos pequeninos,
seus netos. São qualidades que inegavelmente sempre desfrutaram, só que mais
limitadas, face à austeridade imposta pela dureza da vida, aquando da criação
dos pais que deram origem àqueles que consideram como seus segundos filhos.
Apesar disso, não se reprimem em dar tudo o que têm de melhor àqueles rebentos,
que admiram tanto ou mais do que os primeiros.
Os avós, são de facto, pais duas vezes.
Isso é inquestionável.
Com o caminhar na vida é que me fui
apercebendo de qual a razão porque os netos sempre alimentaram uma predilecção
bem vincada pelos avós. Um afecto tão frisado, que se mantém, até mesmo quando
eles passaram para a eternidade.
Os avós, são aquele poço sem fundo onde os
netos despejam as mágoas; são os segredeiros número um, o cofre-forte das
“desventuras”, e têm sempre uma palavra amiga para dar resposta aos problemas
que os netos lhe colocam, ou desfrutam sempre de uma carícia para lhes
oferecer, sob a forma mais simples de um beijo e um afago de ternura, para lhes
estancar as lágrimas, besuntando com elas o seu próprio rosto, por vezes já
enrugado pela idade, em sinal de condescendência e afectuosa protecção.
São eles que, muitas vezes já velhinhos e
cansados, arranjam sempre forças e tempo para tratar do bem-estar dos netos,
nas ocasiões em que os ascendentes mais necessitam. São o seu anjo da guarda
que raramente levanta a voz ou a mão, mesmo quando o “fedelho” necessita. Muitas
vezes desleixam a sua vida para viver a dos netos. Por muito que tenham para
fazer, arranjam sempre tempo e paciência para os aturar, emocionando-se com a
sua inocência e indulgenciando sempre as traquinices e teimosias próprias da
sua idade e do seu entender inocente, ainda em fase de desenvolvimento.
Um dia os avós hão de partir para nunca
mais voltar; aí os netos vão valorizar a sua falta e vão sentir que, apesar do
seu desaparecimento, algo lhes deixaram que não se resume somente à saudade, contudo,
lições de vida, repletas de histórias, adágios e exemplos, que jamais
esquecerão.
Este simples resumo é dedicado a todos os
avós do mundo – inclusivamente aos meus, que há muitos anos embarcaram para a
eternidade.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 06/03/2019
Nota:
ainda continuo a resistir
ao
Acordo Ortográfico.
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