APARTIDARISMO
Não é possível
discutir racionalmente
com alguém que
prefere matar-nos, a ser
convencido pelos nossos argumentos.
(Karl Raimund Poppe)
APARTIDARISMO
Por
uma questão de afirmação da minha liberdade de palrar e de ortografar, faço
questão de manter-me o máximo possível, arredado de quaisquer ideologias ou
sectarismos que proliferam na alma das diversas facções políticas do meu país.
Só assim posso garantir a mim mesmo a independência indispensável para poder estilhaçar
com imparcialidade, as teorias, ou mesmo as práticas, menos éticas daqueles que,
no meu entender, merecem, ou, da mesma forma, louvar os que, elogios souberam
granjear pela firmeza e rectidão do seu carácter perante a comunidade.
É deste modo que entendo a sabedoria da
democracia e a razão da sua existência.
Espontaneamente, questionar-me-ão; “então,
mas este desmiolado não tem voto na matéria”? Claro que tenho, não sou
diferente dos de mais, e quando a mesa abre as pernas e a greta da urna fica
à disposição da minha consciência, é evidente que lhe enfio o meu o meu parecer
na forma de sufrágio, para a ajudar a encher o espaço interior onde pairam os
mistérios de interrogação e da esperança, e, ao mesmo tempo, para descarregar a
análise da minha percepção, já com longo tempo de amadurecimento, mas não
livre, como é natural, de interrogações e reticências.
Não me considero diferente dos outros, só
que, sou alérgico às lavagens cerebrais, não me constrangendo no entanto, que
cada um se prontifique a recebê-las, segundo a sua maneira de ser, pensar e deslocar-se,
no universo social onde está agregado, moldando-se à natureza do sopro que lhes
balizou o norteamento aquando da sua concepção natural, ou a favor das pulsões
ardilosamente geradas pelas conveniências pessoais.
De uma realidade tenho a certeza; quer uns
quer outros, ambas as partes podem equivocar-se. Mas só erra quem é humano, e
só volta a cair no mesmo engano, quem é maníaco-depressivo no pico da crise, ou
geneticamente estúpido; no segundo parâmetro, cientificamente sabe-se que a “demência”
genética é auto-imune; logo, não existe terapia possível para desenraizar o
palerma da estupidez natural que o embrulha, com vista ser iluminado pela luz
cintilante da razão, resultando daqui a maior fatia da inconstância, não só
local, porém, global.
Nunca fui amante do espartilhamento à
liberdade da minha consciência e tudo tenho feito nesse sentido para a manter
sadia ao longo do trajeto da minha existência, mas reconheço, contudo, que não
tem sido nada fácil.
O fundamentalismo, seja de que modelo for,
atarraxa a liberdade de pensamento, condicionado dessa forma o valor opinativo
do entendimento, porque é decorrente uma razão que pugna pela defesa intransigente
e cega, de determinadas regras ou princípios, sem deixar espaço de manobra,
deixando os seus “veneradores” sem vontade própria e muitas vezes usados no incitamento
da desestabilização comunitária.
É precisamente pelos raciocínios aqui
apontadas, que, com ou sem razão, - o tal benefício da dúvida - faço questão em manter a minha própria independência,
conquanto que prossiga a reverenciar a liberdade dos outros e a compreender as
suas preferências, sejam elas construídas de olhos abertos ou mentes cerradas.
Ambiciono a autoridade própria para poder
falar e redigir desafrontadamente, sem me sentir aperreado pelas camisas de
forças doutrinárias.
Daí, o meu apartidarismo.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 10/03/2019
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