O MELRO DOS PENÊDOS
O
MELRO DOS PENÊDOS
(Historieta
para matar o tempo)
Bem aviado de uma penugem desgrenhada e
empanzinada de grafite, esvoaçando em rasante por entre o arvoredo rasteiro e
desviando-se dos pedregulhos - analogicamente seus parentes, por pertencerem a
uma genealogia impensante - com o seu assobio desafinado, mais parecido com um
chilrio, mas protegido por uma cambada de melros da sua igualha, lá conseguiu
encetar a sua penetração no útero apodrecido da politicalha; “ocupação” onde se
ganha bem sem nada se conceber. É um “ofício” destinado à chulice, ao ócio, ao
malabarismo barato – que nos sai caro - porém lucrativo, e marginado por um
benefício como “agravante”; uma imunidade incondicional que o tutela contra
todas as parvoíces, tropelias e trampolinices, por muito velhacas ou
inconvenientes que elas sejam. O melro, sente-se um pequeno marajá num reino de
cegos, até que estes abram a pestana.
Foi deste modo pardacento, ninho mal
feito em que a realidade é pouco clara, que o melro dos penêdos, esvoejando e
mal sabendo gaitar, zarpou dos Montes Hermínios e atingiu a alcândora que,
apesar de lhe ter granjeado um aparente estado social “elevado”, ele, na sua
tacanha rusticidade, se sente agora um autêntico soberano, embora frustrado,
que outrora fora um rei de causas perdidas. Foi arrancado à serrania, contudo,
a serra não o abandonou.
Foi este passarôco – possivelmente,
passarão – maila passarada de estrema rareza, que, por entre comezainas,
“boîtes"e compadrios, não isentando alguns xanaxs
para lhe aliviar a atroada do martelar da incompetência genética que o distingue
pela falta de intrepidez para triunfar, foi catapultado à força, pelos
despenhadeiros serrania abaixo, como um burgau desprendido do alto de um
rochêdo, rolando e fazendo tangenciais carambolas nos socalcos e penhascos da encosta,
lá foi parar ao hemiciclo parlatorial, a celebérrima gamela leiteira de onde, a
partir de enchumaçadas cátedras se decretam entre barrelas de lavagem de roupa
encardida pela inaptidão, os estatutos, cujas consequências todos nós,
considerados passarada de segunda classe, remuneramos, quer pertençamos às fatídicas
Cólera-morbo, Febre-amarela, Peste Negra, ou à repudiada Peste Grisalha.
Acho que é hora de nós, considerados
pardais dos telhados, nos unirmos e, juntos, promovermos uma chumbadazinha no
melro dos penêdos e em toda a passarada negra que o suporta, para lhes
chamuscarmos a lanugem e remetê-los à sua procedência, instalada no reino da
incompetência, que jaz congelado muito abaixo do sopé do entendimento.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 23/07/2018
Nota: Qualquer parecença que possa
existir com
alguma figura da nossa “fauna” comunitária,
é
pura coincidência
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