A REVOLTA DA "PESTE GRISALHA"
O conhecimento torna a alma jovem
e diminui a amargura da velhice.
Colhe, pois, a sabedoria. Armazena
suavidade para o amanhã.
(Leonardo da Vinci)
A
REVOLTA DA “PESTE GRISALHA”
É
mesmo uma sublevação a sério! Nunca esperei que a ferocidade do meu ataque, a
imprudência de um deputado e as decisões dissemelhantes entre juízes, viessem a
resultar no ciclone de indignação que ultimamente têm bulido com a percepção de
uma tão grande fatia de portugueses. Esta reacção de cariz condenatório, já se
arrasta um mês e ao que se me quer afigurar, ainda está para durar.
Perante tão catastrófica revolta, onde
as hostes grisalhas, e não só, constroem paliçadas à minha volta numa cerrada
defesa e erguem as espadas dos seus argumentos os contra o que dizem ter sido uma
injustiça, a minha condenação. Que poderei eu depreender, desta lição de solidariedade
e indignação? Nada mais, nada menos, do que, nos trilhos cobreantes da lei,
algo devia ter sido mal conduzido ou mal interpretado.
Agora apraz-me questionar:
Como
é que o mesmo Tribunal (Tribunal da Comarca de Gouveia) que me absolveu na
instrução do processo, mais tarde me veio a condenar, cuja
condenação foi confirmada pelo Tribunal da Relação de Coimbra?
Só mais uma questãozinha, quiçá de mau
gosto, todavia não quero alimentar dúvidas dentro de mim, porque que funcionam
como uma camisa de forças para minha incomodativa maneira de ser:
Em face da minha resposta, não ao artigo
“Portugal de Cabelos Brancos” – veiculado pelo “Jornal I” em que o autor se
assinava por Carlos Peixoto, Advogado e
Deputado do PSD – contudo, unicamente à frase que deu origem à polémica
réplica, “A nossa Pátria está
contaminada pela já conhecida peste grisalha”, eu fui acusado de um Crime
de Difamação Agravada, pelo autor da frase constante no seu artigo de opinião.
Foi a “nobre” resposta que obtive, à carta aberta que lhe enderecei.
Nos seus argumentos processuais assumiu
com grande ênfase que era deputado; “choramingando” arguiu que foi muito mal
tratado, difamado, e outras interpretações nocivas que ele entendeu na sua trasladação
linguística. Até aqui, certo.
Como não ficou satisfeito com a minha
absolvição, encetou um recurso para o Tribunal
da Relação de Coimbra, pedindo “o meu pescoço à guilhotina”; com vista a
ser submetido a um julgamento no “Sinédrio” de Gouveia, o supracitado Tribunal retirou a Agravação, alicerçando a sua
tomada de posição, no argumento de que o queixoso não escreveu a sua crónica -
“Um Portugal de Cabelos Brancos”- como Deputado, mas sim, como simples cidadão,
transformando desta hábil forma, este crime, diga-se Publico-político, em um
crime particular, tendo como resultado o meu julgamento, donde culminou a minha
controversa condenação; justa ou injusta, não cabe a mim julgar.
A sociedade grisalha - e não só – com a
sua escamada revolta, está a encarregar-se-á dessa espinhosa missão, que
consiste no julgamento donde proveio a minha condenação em que os julgadores é
que são os condenados ao suplício do martelo da moral e do senso comum, onde me
parece abundar uma justificada razão para que tal aconteça.
Apesar da dureza e da conclusão e da refrega,
sinto-me bastante confortável, e, com os meus setenta e dois anos de idade, mas
com os miolos e o resto no devido lugar, ainda que contaminado pela grisalhice,
até agora não foi necessário recorrer ao xanax para ter sonos repousantes.
Jamais me arrependi e nunca me
arrependerei de defender, atacando raivosamente, quem eu entendo que despreza
os princípios da reciprocidade no respeito mútuo, catalisador de uma boa e
saudável vivência, e muito menos perdoo as ofensivas arremessadas àqueles que,
com mais ou menos saúde estão na rampa de lançamento para o além, mas que
deixam cá as suas lições de vida agrupadas em pequenas histórias de sangue,
suor e lágrimas, com parcas alegrias pelo meio, e que devem ser aproveitas
pelas mentes mais sensatas, para que no futuro possam contribuir para uma
estabilidade social mais condescendente e por isso, mas judiciosa.
E para finalizar, espero que esta
sublevação fique para a História, a fazer parte da tão badalada revolta social,
contra a minha condenação, em:
“O
CASO DA PESTE GRISALHA”.
António Figueiredo e Silva
(OCONDENADO)
Coimbra, 01/12/2016
www.antoniofsilva.blogspot.com
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