A AMIZADE
Não são as coisas bonitas que marcam as
nossas vidas, mas sim, as pessoas que
têm o dom de não serem esquecidas.
(?)
A AMIZADE
(Reflexão)
Quando
me afasto de tudo o que me rodeia e começo a confrontar e a escabulhar entendimentos
que há muito tempo se hospedam na minha venêta,
inúmeras vezes arribo a conclusões que
vale a pena transpor para palavras, por fazerem parte da realidade dos
nossos dias, onde os interesses por vezes conseguem escamotear amizades
incertas, substituindo-as por um manto de falsidade bem disfarçada, que aspira,
com muito requinte, mostrar uma realidade ainda que aparente, de uma realidade
latente, bem dissemelhante da primeira.
A amizade não é mais do que a
identificação de sensibilidade em relação aos infortúnios dos nossos
semelhantes. Como verdadeira virtude, não é fácil de encontrar, porém não é de
todo impossível.
Reconhecer estas pedras no plaino
caminho do nosso convívio quotidiano não é por certo tarefa simples, mas se
tivermos nascido com agudeza no entendimento de observação entalhado no nosso
ser, e durante a “curta” estadia por cá o tivermos aprimorado, conseguiremos
abrir a Caixa de Pandora profundamente escondida no fundo reservado dos nossos
amigos, ou supostos como isso.
O obstáculo principal que se opõe à sua
descoberta (a benquerença) é sua a raridade; podemos compará-la a uma agulha
perdida nos fardos de palha da hipocrisia constante que a envolve. É
precisamente essa falsidade, adornada com um já muito usado, porém robusto capote,
concedido pela manha, que na maioria das ocasiões por muito prudentes que
tenhamos sido, embarcamos no lodo do erro e ficamos desiludidos porque as
nossas supostas certezas se volatilizaram. Eram apenas aparentes! É bem verdade
que as aparências iludem por muito que tenhamos a mente aberta, mas… existe
sempre um mas… com uma análise cuidada, conseguimos distinguir a toca do “lobo
mau”, da do "lobo bom".
Muitos imaginam, erradamente, que essa
virtude se encontra no burburinho das festas onde a alegria extravasa – às
vezes até em excesso; nas tascas onde os vapores etílicos fazem arreganhar os
dentes; nas ocasiões de mais pesar onde guião deve ser carpimento e angústia; em
aparvalhadas excursões (algumas) de romagem às amendoeiras em flor ou para
fazer um apalpanço à cortiça dos
sobreiros alentejanos e olhar com ar de palonço, as varas dos pata-negra
freneticamente a tricar bolotas.
Traduzindo por miúdos: não, ela não se
encontra a pontapés, nos casamentos, nos baptizados, nos mortórios, nos
aniversários, nas tavernas, nas discotecas, etc. Estes são precisamente os
eventos onde o fingimento atinge a sua mais alta magnitude, mas todos ficam
aparentemente felizes, porque reuniram muitos “amigos”! Outros porque se
encontraram com os palitadores de
jaquinzinhos fritos afogados com uns copázios
de tintol – a mais sincera companhia – entremeando nos intervalos de mastigação,
algumas baboseiras manchadas de um picante tosco e por vezes abrutalhado, das
quais não se tira qualquer pitada de aprendizagem; para não falar dos que
se alardeiam, “tive muitos amigos convidados”, no funeral do Ti Manel havia
muita gente e eu também estava lá! Tinha muitos amigos, caramba! Tinha, tinha!?-Digo eu.
Isto são maneiras imprudentes de
contabilizar a amizade que no fundo nunca existiu. Permanece sim, é o medo de
que o parceiro se ponha a cuspir palavras pouco abonatórias sobre quem não
colabora com a falsidade social estilizada no espaço incorpora. Isto é verdade;
todo o resto são cantigas.
A amizade, podemos encontrá-la sim,
nos momentos mais desafortunados da nossa vida. É nessas alturas que temos
necessidade de ter alguém por perto “que nos dê a sua mão”, que nos escute, que
nos aconselhe, que nos apoie. É nessas “tenebrosas” ocasiões que nós ficamos
realmente a saber onde está a verdadeira amizade, que muitas vezes brota
espontaneamente de onde menos esperávamos, enquanto as ditas falsas amizades
se acocoram encasuladas no aconchego sua cobardia e mostram-nos desse modo quão
falsa era a sua afeição.
Apesar de tudo, tenho uma coisa para
dizer, que, pela verdade que confina vale a pena verbalizá-la: quando um
invulgar gesto de amizade com toda simplicidade nos faz um “ataque” de
surpresa, invariavelmente apossa-se de nós a vontade bravia de teimar e tentar
vencer ou ultrapassar os objectivos a que nos tenhamos proposto, porque
sabemos que não estamos sozinhos.
Uma virtude a conservar em molho de
gratidão:
A AMIZADE.
António Figueiredo e Silva
Coimbra/04/12/2016
www.antoniofsilva.blogspot.com
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