O ASSOBIO
Escrita há nove anos; quer parecer-me
que ainda hoje o sangue circula nas
minhas veias à mesma velocidade de então.
O ASSOBIO
É uma propriedade que o ser humano adquiriu,
cuja história se perde na imensidão dos tempos. Penso que o assobio é tão velho
como a formação do universo, porque “no
princípio só existia o Verbo”! E a
palavra, em toda a sua abrangência é uma forma de som donde emanam todos os
outros, audíveis e não audíveis para toda a criatura vivente.
O assobio é a orquestra privada de quase toda
a gente e principalmente dos mais desfavorecidos pela tecnologia. A
particularidade de assobiar teve grande expansão antes de ter sido inventado o
gramofone e porque não se pagava licença – agora também não, mas vamos ver até
quando.
O assobio tem
diversos patamares de interpretação que variam segundo o seu comprimento de
onda e tempo de actuação. O tom oscila em função do local, do estado da alma,
da hora, da intercorrência climática e daquilo que se pretende insinuar, como:
ordenar, gozar, enaltecer ou até mesmo provocar irritação.
Para isso
existem vários tipos de assobio: assobio de chamamento, de advertência,
malicioso, de delicadeza, de apreço e lisonja, de comando, gozador, de
admiração, de experiência, ouvindo o eco e certificar-se da existência o efeito
Doppler, (não recomendado para moucos), para cortar a monotonia ou ajudar a
resolver uma análise quando o pensamento está a discernir; até serve como
terapia para provocar sono, aliviar a tensão espiritual ou dispersar a
melancolia. Haveria muito mais a dissertar sobre as propriedades acústicas
provocadas pelas vibrações do ar, mas não foi esta a intenção que me trouxe até
aqui ortografando esta divagação sobre o silvo ou assobio, como melhor queiram
entender.
Mais ou menos
todos nós gostamos de assobiar e assim nos vamos mantendo se não se lembrarem
nos cortar o pio. Não me pasmo nada se o fizerem, pois na decadência em que nos
encontramos, tudo serve de motivo para arranjar dinheiro com o fim reabilitar a
economia (dos outros), há trinta e tal anos atrás bem recheada por sinal,
quando isto era um Portugal “desgovernado” – governado está agora! - sob a
égide de um “fascista”, que quando compulsivamente abandonou este mundo, deixou
também uma conta bancária particular cheia de cotão, e este, apenas recheado de
patriotismo, única carga argêntea que não é palpável, porém pode ser
constatável.
Ainda não
acabei, mas já sinto que muitos, ao lerem o que acima acabei de escriturar, me
imputam sintomas de oligofrenia profunda. Se assim for, é natural que estejam
certos; porém, se assim não for também estarão dentro da razão, porque eu
continuarei a “assobiar” da mesma maneira e na habitual entoação que tenho
usado até agora.
Teimei em
passar ao papel este pensamento, à primeira vista obtuso, mas, depois de assistir
à germinação de tantas ideias, muitas sob forma legalizada, para nos arrancar à
força direitos adquiridos e reduzir direitos a adquirir, que não me espanto
nada que um dia não possa sair uma lei que nos imponha regras para podermos
assobiar.
Basta que
alguém se lembre e a comunicação social dê a devida ênfase, é muito natural,
por exemplo, que amanhã possa brutar (mesmo brutar) uma norma que vise aplicar
sanções pecuniárias àqueles que assobiem em público, sem possuírem o curso de
um conservatório de música.
É muito
natural! Então se já se pode pagar imposto por ajudar em forma monetária um
filho, ou outra pessoa qualquer, porque não pagar uma coima por assobiar, sem
estar credenciado para isso? Se quase todos os portugueses, mal ou bem sabem
assobiar, seria um bom motivo a explorar pois renderia uma boa fatia para
engrossar os cofres do Estado (?).
Pelo sim e
pelo não, sugiro a todos os portugueses que sabem assobiar, e os que não sabem
que comprem um assobio, e, juntos, assobiem em uníssono e façam um chinfrim dos
diabos até rebentar os bofes e os beiços, pois um dia podem ter que calar a
assobiadeira.
Tomem atenção
ao que vos diz este tolo! Aproveitem a assobiar agora, enquanto é tempo.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
05/06/2007
Ou:
www.antoniofigueiredo.pt.vu
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