"SONOGRAFIA" (A música e a escrita)
“SONOGRAFIA”
(A
música e a escrita)

Os oito sons que nos fazem vibrar as
membranas timpânicas, e apenas oito, podem transportar o nosso espírito para
uma dimensão transcendental, incutir-nos coragem guerreira e empurrar-nos para
a luta, levar-nos ao êxtase ou tornar-nos condescendentes e mélicos.
No manancial alfabético, composto de
vinte e quatro símbolos com os quais podemos formar palavras, da mesma forma que
a música, estas podem ser de carácter agreste, benévolo, maldoso ou metafórico,
onde a polissemia pode querer dizer, nem sempre tudo, nem sempre nada, mas certamente
alguma coisa, entendida por uns e desentendida por outros.
Como o compositor na disposição dos sons
musicais, o criador da ordenação gráfica tem a capacidade, se souber, de
submeter o leitor, sem grande esforço, a beber das suas ideias com incrível
satisfação, comungando ou não das mesmas, mas apenas pelo prazer da leitura,
seja ela suave ou agressiva.
Tanto na escrita como na música, o ser
humano expressa o que lhe vai na alma em determinado momento da sua vivência. Nos
retalhos temporais que constituem as pautas da vida, ele pode regurgitar o
sentimento do seu ego, e, de uma forma ou de outra, conduzi-lo ao interior de
quem o ouve ou lê.
Um simples sustenido mal colocado pode
turvar a harmonia de uma ária, assim como uma palavra, não digo no lugar errado,
mas entrelaçada de outra forma, pode transfigurar um parágrafo no seu todo.
Há pois nestas duas vertentes, uma
componente comum que é a sua manipulação, dependendo esta, da espiritualidade e
sensibilidade do criador, cuja virtude não se compra, mas vem embutida nos
genes e é a Natureza que se encarrega de privilegiar alguns; porém, dada a sua
supremacia pela diversidade, nem todos tocam, falam ou articulam com a mesma
habilidade, não excluindo contudo a relação entre estas duas artes que, embora
dissemelhantes, mitigam a sede na mesma fonte; a fonte cósmica, onde o enigma
da Criação preserva os seus mistérios hermética e indefinidamente cerrados que
só uns quantos bem-aventurados conseguem ter acesso. Estes privilegiados não
morrem, porque deixam o seu símbolo terreno em formas melódicas ou gráficas,
para deleite da posteridade, ad aeternum!
A
música e a escrita.
Vidago, 2/04/2016
www.antoniofsilva.blogspot.com
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