RESCALDO
RESCALDO
(Mais
um Natal passado)

É uma quadra, ou um período, como
queiram intitular, que, se procedermos à sua dissecação analítica, feita com
consciência despretensiosa e fertilizada com simplicidade natural, podemos
chegar à conclusão de que no meio de toda a exaltação, subsiste também uma
abonada dissimulação emotiva.
Desejam-se muitas felicidades, muitas
prendinhas, muita saúde e bem-estar, muita paz e harmonia, colorindo com “tudo
o que de bom existe sobre Terra”.
A meu ver, este sentimento tem vindo a
banalizar-se com o correr dos tempos e à blogosfera.
Deseja-se tudo a quem se conhece e a quem se desconhece, o que por si, não vou
dizer que não seja uma boa atitude, contudo, peca por falta de sentimento
afectivo. Quer dizer: o desejo está expresso; o afecto é que muitas vezes cai
no charco da incerteza.
Perante isto e ainda no rescaldo, os
pobres, esquecidos, voltaram aos seus “refúgios”; pardieiros, dormitórios
cativos debaixo das pontes ou encolhidos sobre uma enxerga de cartão puído pelo
uso e cobertos com “roupa confeccionada” com mesmo material; “acomodam-se” nas
soleiras portas dos prédios, nas estações ferroviárias e em outros sítios
abandonados pelo aconchego, enquanto a sociedade dos “bons” desejos natalícios,
continua no seu andamento rotineiro carregando um ar frio onde congelam a
lembrança natalícia e vão passando a assobiar para o lado, até ao próximo Natal
que será sempre no ano seguinte.
Durante o resto do tempo, treme quem tem
que tremer, passa fome quem tem comida à míngua ou morre à míngua quem a não
tem.
Vem
outra época natalícia. Aí sim, a comunidade dá novamente azo ao seu fingido -
para muitos - filão puritano, que lamentavelmente só acontece de ano, a ano e
recomeça o a expor o seu dom caritativo, mas, sol de pouca dura…
“PORQUE É NATAL”!
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 25/12/2015
www.antoniofsilva.blogspot.com
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