"O PAINEL"
“O
PAINEL”
(Café
e Pastelaria)
Quem sobe da Praça da República em
direcção à Cruz de Celas, é o primeiro espaço de cafetaria que encontramos,
logo a seguir à bifurcação da artéria Pedro Monteiro.
Por aquele pequeno espaço, oficialmente
baptizado de “Café Imperial”, na Conservatória do Registo Comercial e que pela
sua pequenez, vim a saber, chamavam de “O Piolho”, passaram por lá, grandes crânios
da nossa elite científica, como Fernandes Martins, reconhecido mundialmente
como um cérebro em Geográficas, *Sílvio Lima, exímio professor Letras e um
pedagogo excepcional, Castanheira Neves, grande professor de direito, Orlando
de Carvalho, o terror de Direitos Reais da Universidade desta cidade, José
Fernando Queirós, conhecidíssimo e competente professor de filosofia,
Nascimento Costa, professor de Medicina e que foi director dos HUC, Francisco
Louçã, economista de renome e coordenador do Bloco de Esquerda, Fernando Rosas,
professor catedrático de história, Ana Drago, socióloga, José Manuel
Romãozinho, também professor de Medicina, Rocha Alves que foi director do IPO
de Coimbra, Francisco Martins, radiologista grande tocador de guitarra Coimbrã
e criador da “Canção de Coimbra”, Joaquim Valente de Pinho, Juiz desembargador,
Mouraz Lopes, hoje Juiz Conselheiro, e outras figuras de relevo nacional e mundial,
como, que me recorde de momento, José Firmino Morais Soares, maestro/compositor
e um dos fundadores do Conservatório de Música da Coimbra, Alexander Kovachec,
proeminente professor de matemática desta cidade e José Ramos-Horta,
actualmente presidente de Timor Leste.
Muitas figuras de relevo por ali
passaram que, envolvidas no seu porte natural e distraídas com as suas
tertúlias, nunca sonharam que vinham a ser observadas, sem intuito pidesco mas
com curiosidade, por alguém que era, EU.
Além destes, outros miolos menos
afortunados que aqui não vou nomear por uma questão de moderação, mas que
graças à esperteza e cabulanço
concluíram os cursos a que se propuseram, e hoje, mesmo com grandes cavaladas
cometidas na sua vida “profissional”, alguns deles até se estão governando; e
de que maneira!
É de assinalar ainda que também por lá
passaram calaceiros, burros imbecis e cavalgaduras, que mais não fizeram do que
esbanjar dinheiro aos pais cuja cegueira os tolhia, e acabaram vazios no seu
todo, carregando consigo uma mente espalmada à Dux Veteranorum, que não lhes serviu de coisa alguma na vida.
No compasso temporal de 71 anos, cuja
velhice é certificada pelo Alvará nº 2, assinado pelo Dr. José Alberto Sá de
Oliveira, na altura presidente da Câmara Municipal de Coimbra, por lá passaram
pessoas de todos os estratos sociais.
A pequena área a que este estabelecimento
se restringe, sempre respirou a essência de um espaço familiar, visco
solidificador de amizades duradouras que o tempo não derruba, como até hoje tem
vindo a suceder. Ali não se notavam diferenciações, mas respeito mútuo, onde em
grande harmonia social se esgrimiam sem altercações dos mais diversos temas
científicos às matérias mais corriqueiras do nosso cotidiano, que, sob a
sensibilidade do ouvido mais atento, poderiam servir para encher o odre da curiosidade,
mitigar a sede de erudição ou servir de orientação para a clivagem necessária à
vivência social.
Na verdade, este sítio, aparafusado
entre a Praça da República e a Cruz de Celas, serviu de sala de estudo a muitos
e de entrosamento namorisqueiro a outros que acabaram por casar e agora
aparecem orgulhosamente com os filhos formados, ou a trazê-los para a universidade,
na esperança de outorgar-lhes um futuro mais promissor.
Este
Café é um ícone repleto de história, que merce ser rememorado,
divulgado e visitado, por todos quantos queiram conhecer um cantinho patusco,
que indubitavelmente pertence ao fantástico historial Conimbricense.
António Figueiredo e Silva
Coimbra 27/0472015
“CRÓNICAS DE UM CRÓNICO”
*Este Sr. foi ilibado
por António Salazar, de dar aulas em todo o território português, vindo a ser
reabilitado alguns anos depois do 25 de Abril; em causa esteve um livro por ele
escrito, “O Amor Místico” – do qual tenho um exemplar que me ofereceu - que mais não era do que um ataque ao então
Cardeal Cerejeira.
Obrigada por incluir o meu pai, Joaquim Valente de Pinho, entre nomes tão sonantes da nossa sociedade. Era um um homem simples e de grande coração. Um abraço.
ResponderEliminarGuidinha, apenas cumpri com o meu dever, em nome da amizade que existiu entre ambos.
ResponderEliminarEra um homem resto; um Juiz Desembargador prudente, mas implacável.
Nunca o esquecer.