QUE RAIO DE JUSTIÇA É ESTA?
A justiça
não consiste em ser neutro entre
o certo e o
errado, mas em descobrir o certo
e
sustentá-lo, onde quer que ele se encontre,
contra o
errado.
(…) não se sabe porque é que ele
está preso. Algum dos senhores sabe? Já houve algum julgamento? Que raio de
Justiça é esta?
(Palavras de Mário Soares,
ex-presidente da República Portuguesa)
Mas não sabe, quem? Só se for a
conveniência que não saiba, porque todo o mundo sabe e eu também sei. Está
“preso” (detido) por, com empenho e mestria, ter realizado obras de cariz
beneficiador, em prol da estabilidade social do país, cuja governação encabeçou
durante determinado período de tempo; foi só por isso. Na realidade, ele não
está preso, até porque não tem culpa formada, o que está é resguardado das
consequências da ingratidão daqueles que lhe querem mal pelo bem que lhes fez;
encontra-se apenas num espaço protegido, em estado de maturação psicológica
(meditação) e ao que consta, abonado de privilégios que não são conferidos à
generalidade dos detidos, com a mesma rectidão e imparcialidade regulamentadas.
Que eu saiba, e não sou jurista, casos
existem que não é necessário haver direito a um julgamento para ser-se posto a
descansar à sombra da detenção; basta para tal, que pairem fortes indícios que conduzam
a uma fechada acção investigatória com vista a uma possível condenação e que ao
melro lhe possa dar na veneta e voar em liberdade, podendo ficar sob a mira de
alguma mal-agradecida chumbadazinha, daqueles que são capazes de o negar três
vezes antes do galo cantar, ficando assim uma lacuna por preencher chamada
dúvida, ou seja, o espaço que separa o mito da realidade.
Ainda há quem questione, “que raio de justiça é esta”!? A meu
ver é justiça de protecção ao cidadão, que perante a lei esse direito lhe
assiste. Está lá, bem quietinho, ninguém lhe faz mal, come e bebe – não pão e
água - à custa do orçamento, sem inquietações com a gerência de uma parca
reforma, gozando a vida à pala daquilo que do Céu lhe cai por obra e graça do
Espírito Santo – esta figura mística, agora também tem tido uma imagem bastante
poluída – e até lhe sobra tempo para escrevinhar, pelo próprio punho, o seu
canhenho de recordações, se assim o desejar. É mau, é!
(…)“que
raio de justiça é esta?”
Penso que esta é uma justiça justa,
porém, que a muitos não se ajusta.
O cidadão tem direito à protecção sem
diferenciação de raças, cores ou credos; então não é verdade?
Eu diria: isto é que é justiça d’um
raio!
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 23/04/2015
“CRÓNICAS DE UM CRÓNICO”
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