NEM OITO, NEM OITENTA



Ao examinarmos os erros de um
 homem, conhecemos o seu carácter.

E os fracos de espírito,
não gostam da façanha.
(Digo eu)


NEM OITO, NEM OITENTA
(Clarificação… ou aviso?!)

É evidente que eu não devo ter o raciocínio tão escangalhado que me leve de empurrão a pensar que, para assumir um posto de “mandatura”, tenhamos que colocar nesse pedestal um santo ou um imaculado puritano; porque, dadas as características do ser humano, este pensamento, cai no buraco da utopia, no lodo da falácia; não passa de um sonho, embrulhado pela inocência e boa-fé, a ondear na vastidão de ignorância, do qual muitos sagazes patifes se aproveitam para fazer penetrar os seus discursos populistas tecidos à feição, a transbordar de “luminosas” patranhas; umas, para espalhar confusão, outras, à partida, que nunca serão concluídas.
Todavia, também não será conveniente enfiar no poder renegados mafiosos, que mercê de esperta argumentação, por vezes lá têm conseguido atingi-lo; como vigaristas, corruptos, ladrões de alto gabarito e outras figuras catadas no rasquido social, que submetem à vendição a fraca impermeabilidade do seu depauperado carácter, para se manterem no poder que lhes “confirma” o sinete de pessoas de bem, cidadãos impolutos. Tem sido o nosso erro!
Não cogito também, que está correcto equiparar um larápio de galinhas a um refinado e astuto “ladrão” de bancos, ou a um desviador de fundos comunitários ou até a um sorvedor de “luvas” para a permissão de ganhos chorudos aos seus vassalos, com prejuízos avultados para a arraia-miúda – os reais escravos da democracia. Não existe mesmo comparação possível. E nesta linha, que é real, o que se tem procurado demonstrar, com recurso a coscuvilhices no trajecto da lavagem de roupa suja politiqueira, é que um peido, tem a dimensão de uma trovoada. Então não é o que tem vindo a acontecer? É notório; só não vê quem não ousa.
É sabido e até normal - porém ilícito - qualquer cidadão tentar passar à margem da lei nas suas obrigações, quando pensa que estas são exageradamente cáusticas e servem também de alimento às vaidades doentias de escanzelados galinácios, que entram para o poleiro de papo vazio e repentinamente aparecem com ele cheio, de pele esticada e luzidia, de peito feito, a rebentar de fanfarronice e a nadar em boa situação financeira. Uns são descobertos, e, ainda que refilando, vão para as pulgas – como se costuma dizer - outros, com mais sorte, continuam, já não digo na sombra, mas agachados na penumbra, até que um dia apareça alguém que lhes sacuda o pó.
 Apesar desta alegoria ser concebida em tom sarcástico e apalhaçado, o seu fundamento não anda muito afastado da realidade.
 Por isso temos que saber a fazer distinção de, entre os maliciosos, quais são os melhores e mais convenientes para não nos deixarmos levar pelo fenómeno da empolação reactiva criada para adormecer quem lê, e para os que não sabem ler, quem não é surdo.
Também é certo que estamos todos no mesmo barco e somos construídos com os tijolos do defeito, que com o tempo e com exemplos podemos ir limando, se bem que, a construção poderá nunca atingir a perfeição, contudo, pelo menos dela se aproximar.
Sabemos que há muitos, cuja dureza ambicional é tão forte, que até os mais robustos dentes da razão os não conseguem triturar.
Apesar de serem vulgares algarismos, não deve haver comparação possível entre o oito e o oitenta.
Esta argumentação fez-me bolsar à cuca, uma recente frase que, independentemente do cromatismo que lhe é associado, gostei:     
“Não sou um cidadão perfeito, mas nunca usei o meu cargo para enriquecer”. ( De: Pedro Manuel Mamede Passos Coelho).


António Figueiredo e Silva
Coimbra, 11/03/2015
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CRÓNICAS DE UM CRÓNICO


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