A DIFERENÇA
Os aduladores são a
pior espécie de inimigos
(Tácito)
Para eles próprios,
e para a toda civilização.
(A.Figueiredo)
A
DIFERENÇA
(TER
E SER)
Por norma, ainda que erradamente, quem
tem é; quem não tem, é “zero”.
Até agora ainda não consegui compreender
a razão pela qual, uma pessoa de posses, ainda que seja um grande carneiro, -
os carneiros que me desculpem - é considerada quase sempre, uma pessoa de bem.
Será que a virtude não é mais forte que os haveres? Tornar-se-á necessário,
pelos critérios perfilhados pela cultura em que estamos encaixados, possuir
algo no sentido material, para se ser uma pessoa de bem?
É precisamente aqui que se instalam as
minhas interrogações entre o ter e o ser, e o ser e não ter; uma vez que uma coisa não tem necessariamente que
completar ou obrigar à outra, se bem que, para as nossas regras colectivas,
enrijecidas pela subserviência e por uma péssima formação racional, por norma
tomam o ter e ser, como regra
absoluta.
Ora, esta maneira de examinar os factos,
não pode obedecer a uma realidade fiável, porque, como podemos comprovar no
nosso dia-a-dia, uma infinidade de pessoas existe que, despojados de haveres,
são figuras de modo virtuoso, com qualidades enquadradas nos princípios da
ética e da moral; seres puros e desinteressados com os quais a comunidade pode
contar sem quaisquer prestações de alcavalas.
Do outro lado, nas escarpas da minoria,
é clara a existência dos “senhores”, detentores da parte materialista, que,
independentemente da sua craveira racional, sendo íntegros ou não, são sempre
conotados como pessoas de bem.
É contra o benefício desta
diferenciação, procedente de uma enraizada cegueira colectiva que afecta a
nossa cultura, que eu me dei ao trabalho de escrevinhar este retalho de prosa,
no sentido de ajudar desmembrar a barreira que separa o sentimento de
subserviência, do amen, do da
realidade e da coragem, para repor os valores onde são devidos. Para dizer que
penso, não é verdade; estou mesmo convencido, pelos acontecimentos que pela
frente se me deparam, que há muito burro, muito desonesto, muito “padrinho”,
muito sacana, muito aldrabão, muita pessoa sem escrúpulos, consideradas pessoas
de bem; pelo menos, pela frente, porque, nas traseiras, a realidade vem à tona
– o que está mal. É nosso dever sermos frontais e chapar-lhes no focinho o que
pensamos delas. Aliviamos, e damos-lhes a oportunidade de defesa, pois podemos
estar errados.
Porque é que filho de cavalo há-de ser
cavalo, se vemos tanta mula à solta?
Não, por estes princípios não enveredo;
prefiro ajuizar as pessoas pelo que são, e não pelo que de material possam ter.
Nenhuma correlação existe entre o ter e
o ser.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 09/10/2014
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