"A LOUCURA"
“A LOUCURA”
É o estado máximo da perfeição do ser
humano. Só o “louco” vê o que e onde os outros não vêm. Só ele sente o que os
outros não sentem e tacteia onde os outros não apalpam. Só ele compreende o que
os outros não compreendem, nem tão pouco a ele próprio.
O mundo dele pertence a outra dimensão.
Talvez ele consiga atingir o âmago
do seu próprio ego, do qual o mundo
está fora, mas impõe o seu domínio.
A meu ver, o que leva um ser a tal estado,
é a fina sensibilidade que o envolve e a apurada inteligência de que é dotado,
que lhe permite avaliar o bem e o mal em toda a sua profundidade até aos
últimos resquícios, em fracções de tempo relâmpago. É mais ou menos aquilo a
que qualquer lorpa menos bem formado intitula de pessimismo.
O
facto é, que se não queremos ser intitulados de pessimistas, presunçosos ou até
mesmo lunáticos, divergindo assim daquilo que anormais intitulam de
normalidade, teremos que viver numa ignorância própria, e talhada para servir a
sociedade em que vivemos, mas que não é pão para inteligências mais rebeldes ou
curiosas, sedentas duma incontrolável vontade de saber.
Mas, a normalidade é um estado de vivência
anormal, na medida que há muitas exigências sacrificiais anormais para que essa
normalidade se mantenha. Ora, é preciso ser-se “louco” para chegar à conclusão
de que nunca poderá ser normal tudo aquilo que seja construído com
anormalidades.
Todas as teses que procuram criar uma
separação absoluta entre o normal e o anormal são dúbias, porque obedecem a
pontos de referência que podem ser comutados, criando sempre a interrogação
sobre qual será o lado normal.
Recordo-me de uma velha anedota, se calhar
história verdadeira, daquele que estando à janela de um manicómio, ao ver um
passante lhe pergunta:
- Vocês são muitos aí dentro?...
Para os nossos parâmetros esta é uma
pergunta anormal. Mas quem me garante a anormalidade do interlocutor?...
É que eu penso que
realmente somos muitos cá dentro e até talvez sejamos de mais e mais doidos dos
que estão lá fora, à janela, dentro do seu harmonioso mundo a analisar os que
estão cá dentro sem hipóteses de remissão.
O mundo da loucura é um mundo à parte do
mundo que os “normais” concebem e sentem. Não existe o tempo imposto, o tempo
convencional. Ele passa sem dar sinal da sua passagem. Não existe pressa em
viver ou em morrer. Não
é conhecida a ambição ou o ódio. É como se a existência do indivíduo exista
como causa única de valor. O resto para ele é alheio às suas linhas analíticas,
como de vazio se trate. Vive mais na introjecção, uma vez que a grande parte as
sensações são interiorizadas.
A loucura poderá ser um paraíso. Não
existem regras, imposições, descriminações e muitas vezes nem fome nem frio.
A normalidade é também um estado
catarrótico de loucura, em que só muda o referencial do observador. Neste
estado vale tudo menos tirar olhos. É neste estado que o ser humano aplica tudo
o que tem ao seu alcance menos os valores da ética.
É aos que vivem neste estado, a que chamam
normalidade, que se vão cilindrando uns aos outros até botarem os bofes de fora
para ver quem fica com a cabeça no topo, a respirar regaladamente o cheiro
fedorento daqueles que sem dó abafaram, que a verdadeira loucura é imputada, e
não aos outros que vivem fechados no seu mundo, onde o tempo não tem princípio
nem fim!... “OS LOUCOS”.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 15/05/2007
http://antoniofsilva.blogspot.pt
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