ESTOU FARTO (Carta aberta ao Primeiro- ministro de Portugal)
Para que os portugueses
não esqueçam. Esta foi a carta
aberta a José Sócrates, na altura
Primeiro-ministro,
enviada para diversos
periódicos. Para que, quem não
a
leu, possa ainda ver a sua realidade actual, porém,
com
uma expansão tenebrosa das mazelas apontadas,
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a outras, pela má gerência, da já péssima
herança
deixada. E esta, ham?!
(Só tive o trabalho de
actualizar a minha
idade e mudar o nome do visado).
f
ESTOU FARTO!
(Carta
aberta ao primeiro-ministro)
É verdade!... Exmo. Sr. Primeiro-ministro
Pedro Passos Coelho.
É tão
verdadinha como eu ter sessenta e nove anos de duração neste odre de maus
ventos que Zeus arrebentou.
Queira V. Exa.
permitir que eu desarrolhe o batoque que me oprime, analise as palavras que vão
pingando em forma da chuva miudinha provenientes de um céu cinzento de mal-estar
onde me encontro e faça delas as cogitações de uma grande parte dos portugueses,
principalmente os mais desfavorecidos socialmente; no trabalho, na reforma, no
ensino, na saúde na segurança e na justiça.
Compreenda V.
Exa. que a democracia não é somente deixar os cães raivosos (como eu e tantos
outros) ladrarem e a caravana continuar o seu andamento, não uniforme mas aos
tropeções, sem ligar patavina às balcadas que lhe aparecem, contudo, sempre
incólume às responsabilidades que lhe são intrínsecas.
A meu ver, a
democracia contempla a permissão de dar às pessoas o direito de poderem expor
os seus pareceres e manifestarem a sua indignação, isto é, sem ultrapassarem as
fasquias da moral e a falta de educação, em cujas linhas já não entro.
Se essa
permissão me é devida, deixe-me a V. Exa. dizer: estou tão fartinho disto, que
se a minha idade fosse outra, já eu teria zarpado para lugar desigual, quiçá
mais organizado, política, económica e socialmente.
Não sou
estadista, não tenho poder de oratória, sou medíocre na prosa, uma autêntica “besta”
a analisar, como vai ter oportunidade de aferir, mas vou tentar justificar o
que atrás acabei de mencionar, para que quando o Sr. Primeiro-ministro tiver
uns minutos de lazer, nem que seja na casa de banho comodamente sentado, nesse
momento de suma meditação possa ler e reflectir sobre quão difícil está a ser a
vivência em Portugal e os pesadelos que estão esmagando a nossa sociedade,
outrora mais harmoniosa, mais equilibrada e medianamente próspera,
características que actualmente se encontram em franco declínio. Disso eu não
tenho a mínima incerteza.
E plagiando a maneira
que caracteriza V. Exa. quando entende que deve justificar alguma tomada de
posição boa ou má, mas sempre justificável, vou encetar dessa forma e levar-lhe
ao conhecimento, o que provavelmente não lhe será sobejamente alheio – é só
para lembrar.
Primeiro:
politicamente somos bons demais para nós, atendendo, como é evidente, ao
verdadeiro significado da palavra político, sendo essa a razão mais
indiscutível para não sairmos da cepa torta.
Segundo: já
não falo de emprego, privilégio que
não é extensivo a todos, contudo por muitos desejado, mas menciono o trabalho,
que apesar de muitos dele dependerem, ele tem escorregado como enguias lodosas
das mãos de muitos portugueses, que agora se vêem em palpos-de-aranha para
fazer face à manutenção familiar, onde muita larica existe a coberto de uma
pobreza envergonhada, alguma dela estampada nos semblantes tristes das pessoas,
ou rabiscada, se houver algum crédito caucionado por haveres, nos cepos de velhas
mercearias, agora soberbamente apelidadas de minimercados
Terceiro: a
protecção social tem-se escavacado em desenfreado galope chicoteada a golpes de
falta de senso; apesar do aumento das reformas ser parco em relação ao
acréscimo do custo de vida, ainda os reformados são contemplados com o
pagamento de impostos, aumentos nas taxas moderadoras e até nas
comparticipações medicamentosas.
Quarto: o
ensino que temos não prima pela qualidade e a sua eficiência é deficiente. Tão
deficiente, que a qualquer calhau pode ser ilibado o saber, sem contudo deixar
de obrigatoriamente concluir os seus “estudos” obrigatórios.
É frequente e
degradante, alunos não respeitarem os professores, figuras essas que deviam ser
prestigiadas porque lhes cabe a difícil tarefa de transmitir o conhecimento, a partir
do qual se constrói um país e uma sociedade equilibrados. Quero frisar que somente me refiro àqueles que sabem ser professores,
excluindo assim, muita escória que com os verdadeiros se mistura.
Quinto: a
saúde!... A saudezinha! Essa, desgraçadamente tem andado doente, cambaleando
pelos córregos da amargura. Em consequência dessa maleita, ela amargamente tem
provocado bastantes enxaquecas em muitas cabeças, com mais incidência naquelas
que estão a subir para o patamar da senilidade e coroam corpos combalidos por
artroses, artrites reumatóides, arterioscleroses, Parkinson/s, AVC/s, enfartes
cardiovasculares e mais um sem número de mazelas. Já não falo em Alzheimer/s
porque essas, coitadas, até esquecem tudo - é mau, mas talvez estas vivam um
mundo melhor, voando no abstraccionismo gerado pela endemia!... Não sei?!
Sexto: a nossa
segurança, face ao avanço do banditismo paralelamente à flacidez da lei e à
hibernação compulsiva do casse tete,
juiz da mão direita que para quem não era canhoto, aliviava muitos processos
que agora entopem os tribunais, cada vez está pior e não me admiro nada que uma
pessoa ordeira, amanhã não possa ocupar o lugar do bandido ou do injusto, por
ter feito justiça pelas suas próprias mãos.
Sétimo: apesar
dos impostos subirem, de ser promovida contenção na despesa pública, accionados
despedimentos onde existiam contractos precários, de serem aplicadas medidas de
“austeridade” por tudo quanto é canto, o nosso poder de compra não tem
aumentado e quanto aos direitos adquiridos, a muitos retirados, a sua reposição
é uma miragem e isto não anda p’rá frente!?… Então o que se passará, Sr.
Primeiro-ministro?
De mim já não
quero que haja compaixão, pois certamente só me restará roer mais meia dúzia de
côdeas!… Mas, e os outros?... Os desventurados do nosso país, que constituem
uma mancha negra na faixa dourada das cabeças pobres em bom senso?
Queira
colocar-se V Exa. no meu lugar, usar a minha visão, ainda que tolhida pelo
estrabismo, ouvir o que dizem, mesmo sofrendo de mouquice, sentir o que eu
sinto, mesmo com a sensibilidade endémica e reflicta se também não estaria
farto.
Pois eu também
estou! Estou empanturrado com a fartura.
Sr.
Primeiro-ministro, venho pedir-lhe que concretize as magníficas propostas que
formulou durante eleições, porque os portugueses vão ser como os santos;
esperam mas certamente não irão perdoar!...
Atentamente
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
29/11/2007
www.antoniofigueiredo.pt.vu
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