A FARSA APLICADA À POLÍTICA
"A ironia é o primeiro indício de que a
consciência se tornou consciente.
(Fernando Pessoa
)
A FARSA
APLICADA À POLÍTICA
Temos de
admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais caprichosos na conquista
de posicionamentos com acentuada gibosidade e muito mais se a sua sobrevivência
dessa valia depender.
No campo da
política isso tem vindo a acontecer com bastante frequência, porque fora dela a
mediocridade não dá frutos comestíveis para alimentar o corpo e a alma. Não dá status social e não dá impunidade para
aqueles que cometem erros por negligência, por mera vontade própria ou por
extrema jumentada. Daí que o campo político seja um manancial na fertilidade de
incompetências cinzeladas, não exceptuando contudo que no meio de muita escória
não existam grandes crânios com alta capacidade organizativa direccionada para
uma boa governação, séria, rigorosa, equitativa e transparente.
Estes nunca
dizem que têm vocação de poder; não dizem que vão fazer; não prometem para não
faltarem à palavra. Limitam-se a dirigir ou a governar e vão fazendo aquilo que
podem em função das circunstâncias existentes, sem disso fazerem alarde.
Quando aparece
uma figura com “discursos” acirrados e demolidores, direccionados ao
sorribamento da estabilidade, prometendo mundos e fundos e denotando extrema
preocupação pelo nosso estado de vivência, o que ela pretende na realidade é
atarraxar com segurança a sua sobrevivência à grande e à francesa, com os
parafusos da boa-fé dos outros. Aliás, se repararmos, há pessoas que enchem páginas
e páginas de papel com faladura, que
no fim de perdermos um bom bocado a analisá-las, encontraremos apenas a repetição
dum parlapié de onde não brotam
ideias, e se algumas afloram, são desprovidas de qualquer essência aproveitável.
O embuste é
comummente usado na política como sendo a cocaína do povo, que é tido como um
meio para atingir um fim determinado: O PODER!
Assim dizia
Mao Zedong: “aprenda com as massas e depois ensine-as”. E realmente ele deu
grandes lições!... Só que eu não as desejo para mim.
Por isso eu
digo: é extremamente necessário distinguir a farsa da realidade, se não seremos
“ensinados” com aquilo que ensinámos… E “assinámos”.
Se não
pararmos para reflectir, por um minuto que seja, se não nos aventurarmos a ver
para além do couro cabeludo, se não soubermos ler nas entrelinhas, se não
levarmos em conta atitudes e gestos insignificantes que muito nos podem dizer,
se não empregarmos a nossa atenção na detecção das incoerências existentes em
muitas prédicas… Aí, com as nossas “lições”, certamente que nos ensinarão e de
que maneira!...
Politicamente
o problema não está em saber qual é o melhor e qual é o pior, mas em saber dos
males qual é o menor.
Sei que na maior parte das vezes não se está
como se deseja. Porém, é preferível estar assim-assim do que mudar para pior.
Temos que ter
muito cuidado com os farsantes. Eles já deram início à sua entrada “triunfal”
muito antes da victória, carpindo “copiosamente” a nossa sorte, colocando-se ao
nosso lado, mas sempre do lado esquerdo, regendo
a musicalidade da sua retórica sob a batuta virtual da transparência e do rigor
e outras palavras agradáveis antecipadamente escolhidas, com as quais
constroem a pauta musical da farsa “estadística”, com a qual, se subirem ao corêto,
nos hão-de dar cabo das têmporas e do tímpanos, num xinfrim que só a falta de
palavra e o autoritarismo deles, consegue fazer-nos admitir a realidade que não
ansiávamos.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra, 27/02/2008
www.antoniofigueiredo.pt.vu
Comentários
Enviar um comentário