UMA MANTA PARA FERNANDO ULRICK
"A
ambição universal dos homens é
viver
colhendo o que nunca plantaram."
(Adam Smith)
Como é
evidente, não se deve fazer uma interpretação literal às locuções deste Sr.;
contudo, já pode ser determinável o sentido de escravatura e cretinice que lhe
minam a razão, imanentes do seu corroído estado de espírito que vê na quimera
aurífera a absoluta felicidade. É por causa da avidez de fortuna fácil,
alicerçada num entranhado raciocínio de sentido esclavagista que assim discursa,
patenteando a miséria dos outros, como a forma mais precisa de vencer uma crise
e paralelamente encher-lhe os bolsos, até agora abarrotados de cotão (?).
Coitado!
Quando interrogadosobre
se o país aguentava a austeridade, “ai
aguenta, aguenta” - irónica e convictamente, respondeu.
“Se os sem-abrigo aguentam porque é que nós
não aguentamos?”
Foi com
desmedida descontracção e afincada arrogância que, convencido da sua eloquência
determinativa, recitou estas verbações que certamente lhe granjearam numerosos “incensos”
num linguajar indecoroso e nos mais requintados termos vernaculares do nosso português.
Vê-se que
nunca comeu pão que o diabo amassou.
A título
analógico, Maria Antonieta de França,
que cuspiu palavras de semelhante sentido e demoliram a resignação aos
“sem-abrigo”, colocando em seu lugar um sentimento de revolta e cólera que lhes
consumiu e mêdo, acabou ela própria por deixar de cuspir.
Livremente da época
e da diversidade das situações, as palavras devem ser sempre ponderadas antes
de serem atiradas para o ar, porque a interpretação das mesmas, para além da
sua construção linguística, tendem a adaptar o seu sentido às necessidades
sociais que em determinada altura se vivem.
Sabemos que Mundo
é pequeno e limitado, a sua efervescência cresce na razão inversa da descida
dos meios de sobrevivência e o fosso que divide o feudalismo da plebe, está
cada vez maior. A continuar assim, poderemos
vir a ter de arranjar uma manta para Fernando Ulrick, que, não se sabe,
poderá vir a cair sem dar por isso, no universo dos sem-abrigo.
É pouco provável, mas não de todo impossível.
Se isso sobrevier ele vai ter de aguentar. “Ai
aguenta, aguenta!”
Pelo sim e
pelo não, vá tendo sempre uma manta de salvaguarda, porque o dinheiro só compra
o que na altura houver p’ra vender.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra
www.antoniofigueiredo.pt.vu
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