A ESTUPIDEZ
A ESTUPIDEZ*
(Ensaio
sobre esta doença congénita)
Para quem tem
dois dedos de testa, frequentemente se interroga sobre se o estúpido nasce
assim ou se é estúpido porque quer.
Eu penso que a
estupidez é de origem genética,
porque consiste numa deformação do intelecto e até pode ser considerada como
endemia incurável, uma vez que não existem registos de regressão; contudo, é
sabido que ela progride com o avanço etário, tendo como única terapia a tumba.
Para um
estúpido, por muitas lições que lhe queiramos dar, não a melhor mas a única, é
deixar que ele bata com a cabeça na parede!... Mesmo assim, com alguma mágoa
acabamos por constatar que ele continua estupidamente fiel às suas convicções, sacralizando
as parvoíces delas decorrentes com a mais alta estima e parva consideração.
Reparemos
nisto: quem consegue conversar, conviver, ou resolver algum problema com um
estúpido?... É muito difícil, a menos que seja outro estúpido como ele ou com a
hibridez de uma mula. Ainda há muitos!
Não é difícil conversarmos
com um ignorante ou até mesmo moldá-lo numa pessoa de bem e respeitador dos
valores da ética; mas com um estúpido isso raramente ou nunca acontece. O
estúpido é calhau que não fragmenta aos golpes da marreta da razão. É requintado
na velhacaria e na delação, não é propenso ao diálogo, é agressivo e teimoso
até levar na “cornadura”, e, por norma tem - se calhar nem tem - a mania que é
o maior e que todos lhe devem prestar vassalagem. Ora, esta situação até parece
um paradoxo porque, não cabendo isto na cabeça de uma pessoa normal, tem no
entanto espaço mais que suficiente no cérebro arenoso e árido do estúpido.
A diferença
entre o ignorante e o estúpido, ainda que não aparente, é abissal; porque um,
ainda que pouco, diz aquilo que sabe e pode apresentar uma versatilidade que
lhe permite absorver os ensinamentos, mas o outro, o estúpido, verborreia sobre
o que julga saber, com grandes probabilidades de não saber nada, e ainda sobre
aquilo que desconhece. Por preceito, a estupidez
é sempre acompanhada da ignorância, enquanto que a ignorância não tem
necessariamente de conter estupidez.
A estupidez, apesar de aparentar
descontracção, funciona como um tampão ao conhecimento, sendo essa a razão
porque deve ser muito triste ser-se estúpido.
As atitudes e
as conversas do estúpido são tão estupidificantes como ele próprio, sendo por
isso um ser irritante e cheio de limitações, que devido à sua estupidez ele nunca reconhece. É um ser
com o qual não devemos perder o nosso tempo ou alimentar polémicas, para não
corrermos o risco de sermos contaminados pela sua doença.
Dificilmente
um estúpido tem amigos, a não ser que sejam tão ou mais estúpidos do que ele,
porque de outra maneira está só. Pode ser até um “pária” endinheirado, dono de
um império, com um bom carro, ou mesmo um carrinho de mão, um parvo com “dê
erre” sem ter direito a isso, ou um simples lavrador ou “industrial” cavalar;
quando minado pela estupidez, não é
nada!... Não passam de desprezíveis imbecis, subsistindo porém uma pequena
diferença entre eles; se têm dinheiro compram os “amigos” que um dia, mais
tarde ou mais cedo os hão-de trair levando-os ao cadafalso, começando por lhe
cortar na casaca; se são uns pobretanas, ninguém está para os aturar e são
mandados apanhar búzios
A estupidez torna as pessoas maquiavélicas,
implicativas, agressivas e brutas, isto é, até encontrarem um “bruto” que não
seja estúpido como eles e se proponha a apertar o cabresto com uma tensão
apropriada que os faça refrear essa estupidez.
O estúpido
constrói à sua volta castelos de tijolos estupidificados de poder, que por
falta de bases sólidas um dia lhe vão ruir em cima!... E ele, com cara de
palonço e ao mesmo tempo de vítima, comprimido debaixo dos destroços da sua
débil “construção” regouga para si: como pude ser tão estúpido?!... Já vi que a
estupidez não compensa! Mas se nasci
assim, que hei-de eu fazer?!...
O problema é
que quando ele pensa o que nunca pensou, já é tarde de mais.
Costumo dizer
que a estupidez é a espondilose
espiritual, sendo como tal um dos piores infortúnios de quem a tem.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra
* Este ensaio é
dedicado a todos os estúpidos
que eu conheço
e aos que desconheço mas
que sei
existirem, no sentido de os ajudar
a pensar, se ainda forem a tempo, e deixarem
de poluir a
coesão da harmonia social.
Simplesmente brilhante.
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