sexta-feira, 23 de agosto de 2024

PESSOAS INESQUECÍVEIS НЕЗАБЫВАЕМЫЕ ЛЮДИ UNVERGESSLICHE MENSCHEN НЕЗАБУТНІ ЛЮДИ אַנפערגעטאַבאַל מענטשן

                                                                                                           

Não vivas para que te bajulem;

existe para que não sejas esquecido.

Viverás sempre!

(António Figueiredo e Silva)

 

PESSOAS INESQUECÍVEIS

НЕЗАБЫВАЕМЫЕ ЛЮДИ

UNVERGESSLICHE MENSCHEN

НЕЗАБУТНІ ЛЮДИ

אַנפערגעטאַבאַל מענטשן

 

       Antes que o meu coração entre em falência e colapse, me arrefeça o céu-da-boca, as minhas células entrem em desenfreada antropofagia e eu deixe de contar como ser vivente, quero deixar escriturada, para a história, esta “meia dúzia” de palavras, como demarcação do meu apreço, estima e assombro, por esta tão nobre figura, que, com especial naturalidade, sempre me tratou (e, que eu saiba, a todos os seus pacientes), com parcimónia, carinho e dedicação; virtudes que observo estarem actualmente a entrar em queda livre generalizada.

Os predicados decorrentes da ética, moral, humildade e saber, que sempre iluminaram o carácter desta Digníssima Médica, ante a minha faculdade observativa, enraizaram-se profundamente no meu íntimo, e legitimam a razão desta dissertação, que, embora “paupérrima”, melhor não sei conceber.

Chegou ao meu conhecimento, a novidade de que a jubilação desta distinta Sra. está prestes a eclodir daqui a uns meses; o que, de certo modo, muito me angustia e perturba. Porque esta notável figura foi, e é, um “dinossauro” vivo, que deu muito de si em benefício do conforto daqueles que dele eram carentes, sem estar agarrada à comum ambição numismática, que a tantos tem adulterado o saber e “financiado” uma vida faustosa, contudo, carenciada de refrigério; para no fim, como todos os vivos, ultrapassarem a barreira da existência sem direito a levarem consigo qualquer cibo de bagagem, e caírem no esquecimento.

Sempre foi privilégio desta distinta Médica, derramar alegria, quando a melancolia circundava o paciente; bastante atenciosa e compreensiva pelo modo como sempre lidou com as pessoas que dela “dependiam”, para lhes mitigar o sofrimento das mais diferentes mazelas de que padeciam; sempre ofereceu os seus préstimos, como uma verdadeira cumpridora do Juramento de Hipócrates; senhora de uma empatia fora do comum, nunca se teve como presunçosa ou como despachante de tráfego de doentes

Mesmo admitindo que haja outra pessoa com qualidades semelhantes que a possa vir a substituir, não vou conseguir esquecer esta tão marcante Sra., que, além de Médica, sempre soube ser Mullher*.

Com o seu humanismo, empatia, paciência e erudição, - sem procurar a obtenção de “louros” -, fez tudo o que estava ao seu alcance para que eu pudesse fruir de uma razoável qualidade de vida, - tanto física como emocional.

Enquanto minha língua continuar a dançar entre o maxilar inferior e o palato, a certificar a minha existência, que certamente, não estará muito longe do fim, apeteceu-me recorrer a esta redacção de apreço; porque, pelos oitenta anos que por cá trauteiam, eu considero muita fruta, e quer parecer-me que a “árvore” já está bastante oxidada - já sinto a sua ameaça agonizante, antes sucumbir ao “carrêgo dos carpos”. 

    E p’ra findar, quero brindar esta ilustre Médica da USF (Unidade de Saúde Familiar), de Celas, em Coimbra, Exma. Sra., Dra. Ivone Saavedra, com uma poesia que não é da minha autoria; porém, uma criação de António Aleixo, por quem nutro grande assombro, por ter sido, como eu, um “semi-analfabeto”.

 

*Nesta vida enganadora,

Não é senhora. quem quer.

Para ser uma Senhora,

É preciso ser MULHER.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 23/08/2024

 Nota:

Não uso o AO90.

 

 

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