O “CHOURIÇO”
(A “letra de lei”)
Aqueles que
deviam ter, já não têm medo dele e olham-no de soslaio, com um sorriso de meia
boca encharcado de gozo, denunciando o seu pensamento: “sei muito bem onde
devias meter isso, meu”!...
Era aquele
bocado de chouriço negro, hirto e tumefacto, que, bem manobrado, acalmava os
ânimos mais arruaceiros e refilões, actuando na hora própria e com rapidez – como
a aspirina.
A aplicação
actualmente considerada ortodoxa desse “falo”, contribuiu em muito para a não
existência do vergonhoso congestionamento de processos em tribunal e o não
menos deprimente aumento da população prisional, uma vez que os assuntos eram
resolvidos em campo ou nas esquadras no momento preciso, com a distribuição das
suas doses directamente proporcionais -às vezes falhavam a proporcionalidade
por excesso, mas errar é humano - ao “bem” perpetrado pelo receptor. Graças ao
cassetete, ele saía de lá ou abandonava o local um pouco combalido e
macambúzio, mas sem vontade de novo tratamento. Ele abria a memória inculcava
na massa cinzenta os direitos e deveres cívicos.
E era com
massagens lombares gratuitas – hoje pagam-se, e bem- que o “filantropo” ou o
“moralista” saíam de lá “catequizados” e a maior parte das vezes não voltavam a
cometer “benfeitorias” que os pudessem levar às sessões deste tratamento
fisioterápico, pois o que não dói, da memória se varre.
Sempre existiu
e existe – ainda bem - um género de pessoas que devido ao seu íntimo moral,
sabem dar-se ao respeito e respeitam quem com eles convive. Porém, outros há
que se esquecem completamente da existência do seu próximo e erradamente pensam
que só eles existem, fazendo de mal aquilo que lhes dá na venêta caçoando no
fim os objectivos dos seus actos tresloucados.
Para este
género de pessoas não conheci até hoje, método algum que lhes impusesse o
respeito pelos outros, a não ser o adorável cassetete ,hoje arrumado a um canto, agonizando à espera que
alguém o revitalize, ou hibernando até que apareçam as condições “climatéricas”
propícias para a sua actuação, que me parecem tardar.
O cassetete,
que durante muitos anos foi o condicionador da violência, apesar de também a
ter distribuído; hoje não é mais do que um mero adorno, um chouriço sem acção,
que no seu suporte vai definhando à medida que a criminalidade aumenta.
Por isso, eu
sou um de entre milhões, que reza para que o cassetete volte a ter as suas
funções primitivas levando os seus “adoradores” a baixarem a cabeça quando o
virem, num acto de submissão à lei e simultaneamente ordem, para que todos
possamos viver com mais sossego.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
23/08/2004
www.antoniofsilva.blogspot.pt
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