Um
político divide os seres humanos em
duas classes: instrumentos e inimigos.
(Friedrich
Nietzche)
AS
ALCATEIAS
Povo
do meu país… ainda que me sinta entristecido em dizê-lo, sinto-me no dever de o
fazer. Com a idade que tenho e a caminho do nunca mais voltar, faço-o porque o
meu alforge está pejado. Está cheio de ouvir mentiras e de ver injustiças.
Estamos entregues aos lobos! Em comunhão
de propósitos lupinos, rosnado ou uivando, eles caminham paulatinamente pelas ladeiras
gélidas e complicadas da governação; olham-nos como presas fáceis e suculentas;
cercam os horizontes da liberdade à nossa volta, com os dentes arreganhados e a
saliva da avidez a escorrer-lhes da boca, prontas para nos derriçar a carne que
ainda resta e roer-nos os ossos até ao tutano.
Os abastados estão cada vez mais opulentos
e os necessitados cada vez mais carentes, face à imperfeita administração com que
as alcateias, à sombra da impunidade nos têm presenteado.
Pautam-se por mudar diariamente a
regulamentação – que o digam os juristas - que bastante nos consome, infernizando
a nossa cubicagem emocional, por jamais sabermos o que se irá passar no dia
seguinte.
Enrolaram-nos numa trama de tal maneira
complexa que nos custou a nossa independência pessoal e territorial, porque, no
seu todo, deixámos de nos autogerir e passámos a ser administrados, dependentes
da vontade de outros e das esmolas que eles nos querem dar; que não são óbolos,
mas créditos com usuras especulativas, onde a penhora são o físico e a mente,
deste povo que, “ladrando” com sentimento de repulsa, no seu íntimo é pacato.
Malditas alcateias que nos infernizam a
vida e não nos deixam dormir descansados.
Face às promessas feitas em todas as campanhas
eleitorais e por todos os elementos das alcateias que se propuseram a administrar-nos,
a degradação social continua incólume, com o seu avanço devastador, irredutível
e irrefreável.
As frases-chave de predilecção usadas em
toda a propaganda das campanhas para chegar ao tacho são: “vamos dar o melhor
de nós, erradicar a pobreza, diminuir os impostos, aumentar as pensões,
melhorar o sistema de saúde, acabar com a precariedade no trabalho” etc. só lhes
faltou dizer que andariam connosco ao colo.
As encenações usadas têm sido idênticas
em todos os membros das alcateias: as mesmas doutrinas, os mesmos tons, e as
mesmas lutas “amigáveis” entre os seus constituintes. No final de contas, a
mesma ladainha politicamente universalizada e os mesmos propósitos, subsidiam
todos os elementos concorrentes à destruição da estabilidade existente em Portugal,
que nos transportou à indigência e ao afundamento, que estou crente não
subsistirmos.
Responsáveis? Não existem.
E não existem porquê? Porque as leis são
manipuláveis, as investigações são refreadas e a justiça parece ser imparcial -
só para o cidadão comum. Os elementos grandes das alcateias continuam à solta,
de boa compleição física e no seu manhoso silêncio à procura de mais carne,
como se a sua avidez seja insaciável.
Até quando resistirá este estado de
coisas?!
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 01/04/2017
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