Dá
muito trabalho ser quem não sou.
(Wesley
D’Amico)
SER
FELIZ… NO FACEBOOK
Ser
feliz é sermo-lo mesmo, e não fingi-lo perante os outros. Ora isto é uma faceta
que raramente é demonstrada nas redes sociais, com grande frequência no facebook.
Se verificarmos os auto-comentários e os
desabafos das pessoas, de uma maneira geral, andam a nadar num mar de
felicidade e esquecem-se que a ilusão de iludir é mais enganosa do que a
própria razão que lhes sustenta essa felicidade invertida.
As pessoas tendem a enganar os outros e
apenas estão a enganar-se a si próprias; é mais ou menos como um teatro, o que
está em cena não é como o que está por detrás do pano. O miserabilismo fica
sempre escondido, porém, as mentes mais hábeis conseguem descortinar a parte negativa.
Mesmo com todo o fingimento, elas, sem
querem, expõem “abertamente” a fragilidade que lhes vai na alma. Isto sucede
com frequência porque as pessoas ao tentarem persuadir a comunidade da sua
felicidade, estão a mentir a elas próprias. Por isso, muitas vezes as palavras
são enganadoras e procuram ocultar o que de mais negativo lhes vai na alma –
talvez seja uma forma de alívio.
O fingimento é como uma sombra que nos
segue e só dura enquanto durar a poesia da ilusão.
Isto leva-me a um verso de Fernando Pessoa, que é a confirmação do
que acabei de escrever:
O
poeta é um fingidor.
Finge
tão completamente,
Que
chega a fingir a dor;
A
dor que deveras sente.
Quase sempre as ilusões são emoções hostis
às verdades sentidas; estas estabelecem uma luta entre si, e em regra danificam
seriamente a parte psicológica por, mais tarde ou mais cedo, conduzirem ao
consciente a realidade existente; esta luta descamba sempre em desilusão e as decepções
constantes fazem parte das causas de depressão, que se reveste de uma série de
consequências de cariz desagradável, senão prejudicial – muitas vezes fatal.
Uma massiva maioria pensa – ou faz o mundo
crer – que é feliz, inebriada só pela postagem
de fotografias onde são notórios os sorrisos de orelha a orelha criados para
efeito, acompanhados de um “V” feito com os dedos e “embelezados” também com risíveis
biquinhos, não dispensando ridiculamente a colocação da língua de fora - se
calhar cheia de aftas por dentro.
Quantas lágrimas sêcas de amargura não
correrão por detrás daqueles sorrisos “abertos”, e quantas palavras sinceras
ficaram por dizer, retidas no labirinto da resignação?
Erradamente cientes de que expõem uma face
da moeda, esquecem-se de que, devido à transparência da mesma, acabam sempre
por expor a outra face.
Mas o cardápio não acaba aqui; ainda
subsiste quem complemente com umas frases sul-americanizadas, que por certo não
saíram do seu cérebro, “quem é a mais
bonita do mundo”? ou ainda aquela, “não
sei que fazer hoje”, seguida de,
“acordei com a pancada”, “toutaver”, ou a “Ambrosina está a sentir-se feliz” etc., acumuladas a muitas
outras, das quais vou, só para terminar, vou usar esta: “A humanidade está perdendo os seus maiores gênios… Aristótoles
faleceu, Newton bateu as botas, Einstein morreu, e eu não estou passando nada
bem hoje”.
Façam
o favor de ser felizes; pelo menos, no facebook.
António Figueiredo e Silva
Coimbra,18/02/2018
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