AGRICULTURA
BIOLÓGICA
Tanto suei a cavar o terreno de composição geológica forte em húmus e logicamente
produtivo, tanto me doeram as costas por ter andado curvado a arrancar as ervas
daninhas, tanto avivei os meus calos com o cabo da enxada na esperança de que
um dia iria colher daquele sítio uma bela produção de batatas isentas de
pesticidas e outros poluentes da saúde humana!
A borboleta atacou, e foi um fiasco; a
minha agricultura biológica pifou, a minha esperança desvaneceu-se.
No meu modesto pomar, que apesar da sua
simplicidade, tem diversos frutos, desde peras de várias qualidades, maçãs
suculentas, ameixas diferentes com características também diferenciadas,
pêssegos carecas e outros lãzudos, algumas diversidades de laranjeiras,
tangerineiras e outras árvores. Na primavera, quando tudo floresce, aos
primeiros raios da aurora sob um leve cortinado de nevoeiro, até parece o lugar
paradisíaco onde Deus criou Adão e Eva.
Já optei por métodos diferentes;
envenenar e ter alguma coisa, ou não contaminar e ter praticamente nada. Mas,
mesmo envenenando, este ano o resultado foi desastroso; a maior parte dos
frutos apodreceram nas árvores ou nasceram raquíticos - “producção biológica” -
e foram depositados junto aos troncos árvores para reciclagem biológica,
servindo-lhes de alimento.
Se reparamos na minúscula fauna que faz parte
da cadeia do equilíbrio natural, muita bicharada desapareceu, mudou de poiso ou
rareou. As borboletas, viciadas sugadoras de doçura e laboriosas polinizadoras
rarearam; as joaninhas, predadoras implacáveis e insaciáveis comedoras de pulgões,
destes coleópteros poucos se vêm, quase desapareceram, deixando o caminho livre
à proliferação dos pulgões que são as “vacas-leiteiras” das formigas, porque
deles extraem, à laia de políticos, a glucose que faz parte do seu alimento.
Já não se ouve o catarrótico cantar da
cigarra; até o cri-cri dos grilos, resultante do seu sistema de refrigeração
nas noites cálidas de verão, tem diminuído; o grasnar das rãs nos charcos é um
milagre ouvi-los etc.; até o coaxar dos sapos em época de acasalamento, quase
que desapareceu.
Não aprofundando muito o tema, houve uma
modificação no equilíbrio natural, pela qual o Homem é o principal responsável,
que deu como consequência a infestação de pragas que ele tem de combater para
poder viver; por isso, ou o homem ou envenena e tem comida,
ou não envenena e morre à fome.
Quero com isto dizer que a agricultura
biológica é um mito e ao mesmo tempo uma oportunidade comercial que floresce à
custa dos lorpas.
António figueiredo e Silva
Coimbra, 27/09/2017
www.antoniofsilva.blogspot.com
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