Banalidades excessivas derrotam
a importância das mesmas.
(A. Figueiredo)
BEIJOCAR
O
acto de beijar, quando reclamado por vontade expressa do nosso íntimo e feito
com recato, até nos trás algum gozo etéreo, por vezes de tais proporções que
até as unhas dos dedos dos pés, embirram em furar o calçado com que as protegem.
O beijar é sempre um acto de afecto; seja ele maternal, paternal ou fraternal.
Pode ser também o prato de entrada para uma sessão libidinosa, como preparação
para a fusão de dois corpos que se entrelaçam até ao êxtase – aqui excluo o
beijo da morte, que era dado pelos padrinhos da máfia àqueles a quem eles
próprios haviam condenado à pena capital.
É
certo que na maior parte da cultura humana, o beijo serve também como função
catalisadora que consiste em conferir determinada importância na selagem de uma
amizade espontânea e sentida. A meu ver, tudo o que for para além disso, eu já
chamo de beijocar; que não é mais do que um triste e “pernicioso” arremedo ao
beijo, pela vulgaridade com que é dado, retirando dele todas as sensações
seráficas ou amistosas que o condimentam.
Quando
no gesto de beijar - acto de tão sublime importância - sobressaem outras
vantagens ou propósitos, cujos objectivos possam demonstrar interesses
comerciais ou políticos - que no final vão dar ao mesmo – apresenta-se então o
ridículo beijocar como uma moeda de troca com valor interesseiro, porém
destituído da sua função principal; o valor afectivo.
Esta
brincadeira de beijocar, pelo menos cá em Portugal, é apanágio dos políticos;
beijocam por tudo e por nada, fazendo a varredura de todas as trombas que lhes
aparecem pela frente a solicitar a sua beijoca em troca de um suposto votozito.
Beijocam
todas as caras e carantonhas à vontade e não fazem questão de qualidade; com os
dentes todos, só com um dente, lavadas ou repletas de fuligem, tudo o que vier
à rede é peixe, ou, tudo o que vier às minhas trombas é voto
Neste
caso, penso que é um bom investimento, porque a falta de carácter compensa a
falta de inteligência e a sua subserviência é efémera - é como a bebedeira, com
o tempo passa – e quando eles atingem o patamar desejado, já não há beijocas
para ninguém e se quiserem falar com eles, têm que meter um requerimento e por
vezes aguardarem pela permissão, até que as aranhas vos confundam com uma
inerte estátua e dêem início a sua artística e intricada tecelagem para caçar
moscas, enquanto esperais.
O
beijocar tornou-se em Portugal uma verdadeira enfermidade no universo politicóide.
Desde o político mais “rasca” – o que todos são, salvo parcas excepções –
até ao mais proeminente, todos optam pela beijoca.
Não
quero excluir, como é óbvio, um virtuoso infectado por esta maleita, que é o nosso Presidente da República.
Penso que se me
tivesse esquecido de tão ilustre figura, Sua Exa. poderia até ficar melindrado,
e longe de mim querer molestá-lo.
E
esta, que tal?!
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
14/04/2017
www.antoniofsilva.blogspot.com
Sem comentários:
Enviar um comentário