domingo, 25 de agosto de 2024

COISA (?)

 

Tem cuidado, se crês estúpida e cegamente na coisa,

porque acabas por ser enganado por coisa diferente.

(António Figueiredo e Silva)

 

COISA (?)



        Não sabem o que é?!

Provavelmente eu também não saberei; mas vou tentar explicar, à minha maneira, que até poderá estar errada.

É um termo da língua portuguesa, que de mais versatilidade caligráfica desfruta. Este substantivo, é provavelmente, o elemento mais empregue como condimento nos nossos refogados linguísticos, quando pretendemos expressar ou transmitir qualquer coisa, -- até pode ser, coisa sem nexo algum. Tanto poderá ser usado como um arremate abstracionista, como para demonstrar determinada situação, justificada pela realidade irrefutável da mesma.

É um termo que funciona como redentor de tudo, quer a coisa exista, quer não passe de uma falácia ou de outra coisa qualquer.  Por isso, todos recorremos diária e constantemente à coisa, - que até poderá indicar coisa nenhuma. É espirituoso, não é?!

Não tenhamos dúvidas quanto à riqueza da nossa língua! É desafogada no seu léxico, e também, na sua polissemia (esta, quando me der na venêta pronunciar-me-ei). É por causa destes factores, (mas há mais, embora de carga mais leve), que sobrevém tanta coisa, que é de bradar aos céus!

Há vários modos de coisar; se existe contenda, “daqui a pouco estás levar com uma coisa na cabeçona”; se não percebe bem ou não sabe, “olha p’rá ‘quela coisa”; se se esqueceu da designação do artefacto, “agarra-me aí nessa coisa”; se cogita na crítica, “deixa p’ra lá, que já não diz coisa com coisa”; se fica com aumento queratinoso na testa, “não sei porque ela me plantou esta coisa”; se é malandreco, e está com apetites libidinosos, “cheira-me a que está a apetecer-me  qualquer coisa; se é segredo embarrilado, “gostava de confessa-te uma coisa, mas não consigo, etc.   

Esta coisa da coisa, é frequentemente utilizada, quando o nosso raciocínio logra a vontade da rapidez por nós desejada; isto acontece, por causa da inquietude ou da lentidão congénita da nossa mioleira, quando nela, a coisa anda disfuncional, e, por não entendermos patavina da coisa, tentamos, ainda que tacanhamente, defender uma coisa, recorrendo ao emprego da coisa.

Há “filosóficos” de charrua, que, mesmo não dizendo nada, arrogam-se a afirmar que uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa ou mesmo, que não representa coisa alguma.

Porém, se ainda houver outra coisa, será outra coisa, até dar início à policoisa, que pode ser coisa diferente, e alongar-se até ao horizonte incomensurável da falácia, não é verdade? Isto é que é uma coisa grande!

A coisa funciona sempre muleta, tampão ou rolha de muita coisa; dependendo apenas de que coisa se trate. A sua pluralidade não tem limites.

Mesmo que qualquer coisa não se haja sentido, existe sempre qualquer coisa, não é verdade?

Então, mesmo que não gostem ou não saibam da coisa, tenham a gentileza de apreciar este articulado sobre a coisa.

 Sei que o que estou aqui a dissertar acerca da coisa, poderá até, ser uma coisa sem nexo; contudo, tenho a certeza de que esta coisa, vale sempre qualquer coisa, e deve ser valorizada como uma grande coisa – ainda que, de caca.

O que me moveu a debruçar sobre este tema, foi que, por não ter nada p’ra fazer, senti falta de qualquer coisa que me distraísse enquanto a sonolência não se manifestar; então, resolvi sair do meu habitual marasmo e escrever sobre outra coisa - que é a coisa.

Se a alguém esta coisa não encantar e se converter num fontenário de críticas, eu aceitá-las-ei de bom agrado, e, com serenidade, tentarei proteger a minha tese. Porém, se estas forem elaboradas em termos soezes, impróprios para “consumo”, e me beliscarem muito a coisa, então que vão p’rá coisa que os carregue – como implicitamente, fica balizado nas entrelinhas.

Considero que a coisa ficou satisfatoriamente esclarecida.  

Bem, como já “coisei” muito, a noite vai alta e a melatonina já encetou a manifestar os seus efeitos, sinto que está na hora de dar por terminada esta coisa.

Agora vou tentar repousar alguma coisa.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 25/08/2024 (às 01;30 h)


 Nota:

o utilizo o AO90.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

PESSOAS INESQUECÍVEIS НЕЗАБЫВАЕМЫЕ ЛЮДИ UNVERGESSLICHE MENSCHEN НЕЗАБУТНІ ЛЮДИ אַנפערגעטאַבאַל מענטשן

                                                                                                           

Não vivas para que te bajulem;

existe para que não sejas esquecido.

Viverás sempre!

(António Figueiredo e Silva)

 

PESSOAS INESQUECÍVEIS

НЕЗАБЫВАЕМЫЕ ЛЮДИ

UNVERGESSLICHE MENSCHEN

НЕЗАБУТНІ ЛЮДИ

אַנפערגעטאַבאַל מענטשן

 

       Antes que o meu coração entre em falência e colapse, me arrefeça o céu-da-boca, as minhas células entrem em desenfreada antropofagia e eu deixe de contar como ser vivente, quero deixar escriturada, para a história, esta “meia dúzia” de palavras, como demarcação do meu apreço, estima e assombro, por esta tão nobre figura, que, com especial naturalidade, sempre me tratou (e, que eu saiba, a todos os seus pacientes), com parcimónia, carinho e dedicação; virtudes que observo estarem actualmente a entrar em queda livre generalizada.

Os predicados decorrentes da ética, moral, humildade e saber, que sempre iluminaram o carácter desta Digníssima Médica, ante a minha faculdade observativa, enraizaram-se profundamente no meu íntimo, e legitimam a razão desta dissertação, que, embora “paupérrima”, melhor não sei conceber.

Chegou ao meu conhecimento, a novidade de que a jubilação desta distinta Sra. está prestes a eclodir daqui a uns meses; o que, de certo modo, muito me angustia e perturba. Porque esta notável figura foi, e é, um “dinossauro” vivo, que deu muito de si em benefício do conforto daqueles que dele eram carentes, sem estar agarrada à comum ambição numismática, que a tantos tem adulterado o saber e “financiado” uma vida faustosa, contudo, carenciada de refrigério; para no fim, como todos os vivos, ultrapassarem a barreira da existência sem direito a levarem consigo qualquer cibo de bagagem, e caírem no esquecimento.

Sempre foi privilégio desta distinta Médica, derramar alegria, quando a melancolia circundava o paciente; bastante atenciosa e compreensiva pelo modo como sempre lidou com as pessoas que dela “dependiam”, para lhes mitigar o sofrimento das mais diferentes mazelas de que padeciam; sempre ofereceu os seus préstimos, como uma verdadeira cumpridora do Juramento de Hipócrates; senhora de uma empatia fora do comum, nunca se teve como presunçosa ou como despachante de tráfego de doentes

Mesmo admitindo que haja outra pessoa com qualidades semelhantes que a possa vir a substituir, não vou conseguir esquecer esta tão marcante Sra., que, além de Médica, sempre soube ser Mullher*.

Com o seu humanismo, empatia, paciência e erudição, - sem procurar a obtenção de “louros” -, fez tudo o que estava ao seu alcance para que eu pudesse fruir de uma razoável qualidade de vida, - tanto física como emocional.

Enquanto minha língua continuar a dançar entre o maxilar inferior e o palato, a certificar a minha existência, que certamente, não estará muito longe do fim, apeteceu-me recorrer a esta redacção de apreço; porque, pelos oitenta anos que por cá trauteiam, eu considero muita fruta, e quer parecer-me que a “árvore” já está bastante oxidada - já sinto a sua ameaça agonizante, antes sucumbir ao “carrêgo dos carpos”. 

    E p’ra findar, quero brindar esta ilustre Médica da USF (Unidade de Saúde Familiar), de Celas, em Coimbra, Exma. Sra., Dra. Ivone Saavedra, com uma poesia que não é da minha autoria; porém, uma criação de António Aleixo, por quem nutro grande assombro, por ter sido, como eu, um “semi-analfabeto”.

 

*Nesta vida enganadora,

Não é senhora. quem quer.

Para ser uma Senhora,

É preciso ser MULHER.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 23/08/2024

 Nota:

Não uso o AO90.

 

 

terça-feira, 20 de agosto de 2024

MISTÉRIOS DO/s TOMATE/s

 

Os mistérios são como as expressões dos tomates;

embora incompreendidas, alimentam crenças.

(António Figueiredo e Silva)

 

MISTÉRIOS DO/s TOMATE/s

ЗАГАДКИ ПРО ПОМІДОРИ/с

GEHEIMNISSE DER TOMATEN

ТАЙНЫ ПОМИДОРОВ


Quando os tomates arregalam os olhos…

É porque algo não lhes agrada, lhes dá prazer, ou porque as mãos que os tocam ou apalpam os enchem de admiração.

São semelhantes aos seres humanos. Os sentimentos interiores, refletem-se na face, não é?!

Ainda que não acreditem, com estes frutos acontece a mesma coisa, - a foto, isso confirma.

Repare-se na reacção da figura inserida: de olhos esbugalhados, bem assim como a boca aberta, numa mistura de contentamento e ao mesmo tempo, de pasmo e surpresa.

Ninguém, com imaginação saudável, pode afiançar que os frutos podem ver e sentir como gente; no entanto, eu creio, com “profunda” convicção, que os tomates, e outros frutos, são possuidores dessas faculdades naturais. A Natureza não erra – às vezes!?

Só espero que os ledores desta narrativa não interiorizem esta minha conclusão investigatória como verdadeira, e se lancem loucamente por aí, a apalpar os tomates a eito, sobretudo os que não são sua pertença, p´ra certificarem a “certeza fraudulenta” das minhas conjecturas, que, por enquanto, são alicerçadas na desconfiança.

É preferível e menos arriscado, cada um, com carinho e brandura, apalpar os que se encontram na semeadura da sua quinta, ou, com alguma cautela, suplicar a alguém de extrema confiança e mãos sedosas p’ró fazer – devo lembrar que quem labora, deve ser remunerado pelo trabalho realizado.

Como já sei que há laparôtos que acreditam em tudo, devo dizer a esses lunáticos, que todo o cuidado é preciso. Por isso, advirto esses “marmelos”, que, se motivados pelas suas pulsões, tencionarem fazê-lo em talhão alheio, que não o façam sem se precaverem com um capacete, porque estão sujeitos a umas bordoadas na tola. Depois não se lamentem!? Não digam que não foram informados.

É que eu tenho os tomates como um fruto muito melindroso. Devem ser bem tratados, regados e estimados por quem sabe da poda e que tenha mãos delicadas; ou, em caso de incerteza, manuseados pelo próprio dono do tomatal.

É que estes frutos, quando apertados mais do que o devido, podem murchar, ou até, entrarem em acelerada putrefacção.

Bem, no fim desta minha jocosa dissertação sobre o “espírito” e a delicadeza deste fruto, que são os tomates, devo aconselhar que cada dono trate dos seus. Dá trabalho, mas o prazer compensa.

Sei que esta escrituração vai gerar algum peso naqueles que os não têm; por privação de terreno ou infertilidade do mesmo, ou falta força de vontade para trabalhar. Mas isso já são circunstâncias que não pertencem ao meu domínio.

Muito mais haveria p’ra dissertar sobre estes frutos coloridos, polifacetados, variados e encantadores, mas fico por aqui.

Vou, mas é tratar dos meus, que bem carecem. As condições climáticas a isso obrigam.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 20/08/2024

 

Nota:

Não uso o AO90.